26/05/11

Galopinagem (II)




Continuo a seguir com redobrado desinteresse os galopins que, à semelhança do  pequeno Edmundo, se vão entretendo a brincar com as bolinhas. Será que também sabem de cor as respectivas idades?

25/05/11

Galopinagem (I)




Estou até convencido que qualquer economista, perdão, que qualquer aluno do primeiro ano de economia, percebe perfeitamente o que este senhor diz. A menos que o fulano seja mais um daqueles profetas da desgraça que Pinto de Sousa tanto gosta de exorcizar.

19/05/11

Contratação Colectiva

Uma vez que a popularucha Merkl pretende harmonizar a nível comunitário o período de férias e a idade da reforma, agradeço que inclua no pacote as gratificações pelo bom desempenho, já em vigor na Alemanha.


Hebdomadário (II)




O periódico urbano dá assim corpo (e estampa), à real noção que tem da notícia, enquanto elemento de forma e de conteúdo, às prioridades que elege na sua percepção da realidade comunitária, e ao voyeurismo que escolhe como trunfo promocional para despachar as tiragens.
Entre o casamento gay e os touros, dois temas ironicamente insolúveis, prefiro o do homem que mordeu o cão. Haja algum que morda também nas canelas do ardina.


16/05/11

Micro-deuses




Esquecido o melancólico e delico-doce episódio da fungada despedida do Mosteiro de São Bento da Saúde ao som de Sinatra, o ex-deputado Feteira Pedrosa, de acordo com o seu blogue de viagens e de pecados veniais, percorre agora ao ritmo de um galgo, as capelas, ermidas e absidíolas do distrito, prometendo à Sra. da Vieira de Leiria, virgem da sua particular devoção, vinte voltas de joelhos nus à Catedral da Luz e três tachadas de arrozinho de lampreia pela Pascoela, se a santinha interceder junto do Misericordioso, para que lhe seja concedida a ventura de mais um contrato a termo certo, por quatro anitos. A seu favor, abona o modesto ex-futuro-deputado, está uma medalha de mérito do município de Figueiró dos Vinhos, a qual lhe foi concedida em agraciamento pelo seus préstimos na construção de um itinerário complementar, distinção essa que se recusa a receber por pudicícia. Gostaria eu próprio, que não sou de romarias, que o município da cidade vidreira também o agraciasse com igual mesura, pelas prestimosas súplicas e preces a favor do alargamento do Casal da Lebre, mas ao que parece os únicos medalhões disponíveis são os de vitela, do Pingo Doce, esta semana a 7,95€ o quilo. E talvez não seja grande ideia, porque deixam nódoa.



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Nota de rodapé:
por alguma razão o Dr. Feteira Pedrosa não aceitou o meu repto e não deu à estampa a avaliação do mandato ora terminado. Paciência. Presumo contudo que a sua performance tenha sido bastante apreciada uma vez que subiu no ranking. No entanto, já que não quis auto avaliar-se, tratarei eu mesmo de tomar o assunto em mãos a 5 de Junho. Talvez não se escape de uma “raposa”.


14/05/11

Back Office


Por razões que obviamente me são alheias, de acordo com o meu assessor informático esta semana o Blogger parece que esteve com problemas no carborador. O dois posts anteriores estiveram temporariamente no limbo e voltaram hoje à luz do dia, só que desta vez sem os comentários.  Peço por isso desculpa a todos os que o tinham feito, até porque, pelo menos um dos comentários não o cheguei a ler.

12/05/11

Púbicidade Estática



Só espero é que o Sr. Almeida Catroga não considere que a discussão em torno da eliminação da taxa intermédia do IVA ou da diminuição da Taxa Social Única se incluam no monte-de-vénus.


11/05/11

E o futuro, pá?



Sacadura Cabral, PP para os frequentadores do mercado do Levante, com evidente contrariedade democrática, lá admitiu que tinha sido ele a comprar os submarinos, mas sublinhou, alto e bom som, que esse pequeno luxo apenas contribuíra para um aumento de 0,5% do endividamento do país, uma gota de água no oceano que se têm entretido a esbalgir. Apenas uns míseros 0,5%.
Pinto de Sousa, que sempre detestou gente gastadora e ronhosa, não se conteve e contra-atacou – “Sim foi o senhor que os comprou, mas fui eu que os paguei!”. É pá, não se faz!...

Eu, que já suspeitava da irrelevância dos debates pré-eleitorais e de outras manifestações telúricas de dimensão semelhante, vejo confirmada a minha tese - o que continua a interessar às forças políticas são a táctica e a estratégia eleitorais e nunca a discussão séria e ponderada do que verdadeiramente está em causa. O guião está escrito e, tirando as frequentes dessincronizações resultantes de papéis mal decorados e da fraca performance de actores mal amanhados, vamos passar quase um mês a ouvir sistemática e constantemente os mesmos argumentos. É pena.
A mim, cidadão reformado do Casal da Formiga e inveterado coleccionador de sonhos, o que me interessa verdadeiramente neste momento é o futuro, já que o passado está nú e crú e o presente hipoteca grande parte das nossas expectativas, já que a soberania se resume a um “mero” caso de virgindade perdida – já era.
A ajuda financeira que aí vem, suportada por imposições que não deixam grande margem para malabarismos e que enxotam a legitimidade democrática para debaixo do tapete, absorvem a parte de leão dos futuros programas de governo – é claro que me refiro apenas aos partidos que vêem essa ajuda como inevitável – pelo que a discussão sobre os cortes e aumentos, em grande medida, é foguetório. Então e o que sobra? Sobram algumas opções sobre os tais cortes na despesa e no aumento da receita, e sobra (sobretudo) o futuro!
É evidente que para mim, pacato cidadão do Casal da Formiga que sempre gastou menos do que aquilo que tinha e que sempre contribuiu com o seu quinhão para redistribuir, e para o resto, gostaria que os partidos discutissem a forma e o modo como pretendem fazer inverter uma situação que ainda nos poderá levar ao abismo, gostaria que os políticos discutissem como vamos criar riqueza para pagar a factura, e para o resto, como vamos assumir que somos um país de e com futuro.
É evidente que para mim, pacato cidadão do Casal da Formiga que apenas pretende ser feliz, esta discussão só faz sentido se for rigorosa, se dispensar dislates e arrufos de lampinhos, e sobretudo (sublinho: sobretudo!) se tiver uma natureza vincadamente ideológica, pois de nada serve trilhar caminhos paralelos que levam a nenhures se podemos inventar o progresso e o futuro fazendo escolhas, opções políticas, arriscando apostar que não é uma inevitabilidade ter nascido português suave. E por favor, poupem-me à lenga-lenga das culpas e dos desculpados, dos bons e dos maus rapazes, pois todos têm submarinos no armário. E TGV’s também. Sejam sérios por uma vez!


06/05/11

Hebdomadário (I)




Os EUA anunciaram ao mundo a morte de Bin Laden. Os mercado reagiram e os homens também.
Poderia dizer que o assunto é incómodo, mas prefiro sair da incomodidade do silêncio a não revelar o que a minha consciência dita. Este não é um mero exercício do contraditório, mas antes uma questão de princípio que assumo em relação a Bin(es), Pinochet(s), Hitler(es), Estalin(es) e outras criaturas semelhantes que disseminaram e vulgarizaram a barbárie, o terror e o ódio.
Sei que não vivo num mundo ideal, sei que as relações entre os estados se baseiam nos interesses circunstanciais e estratégicos, na hipocrisia, no maquiavelismo económico e no pragmatismo da diplomacia de influência, termo inocente, em português suave, que dissimula a maioria das vezes interesses obscuros e não raramente tenebrosos.
Também sei que nunca me senti confrontado com a angústia de ter perdido familiares ou amigos num atentado terrorista, que não conhecia nenhum ser humano que estivesse nas torres gémeas, no metro de Madrid, em Aden, em Nairobi ou em Tikrit, que não vivo marcado pelo medo nem pela angústia da insegurança, que não tenho de me preocupar com questões de segurança individual ou colectiva, que não tenho de tomar decisões.
Mas nem mesmo assim, ou talvez por isso, eu consiga perceber que alguém se possa regozijar pela morte de alguém. Nem mesmo que essa morte seja a do nosso maior inimigo, pois não acredito que a verdadeira humanidade se construa a tiro.
Talvez o defeito seja meu, mas vou ter de viver com ele.

04/05/11

Eles andam aí


Esta manhã a Lurdes Rata irrompeu de forma extemporânea e inadvertida pelo meu quarto adentro, gritando como se não houvesse amanhã – “Patrãozinho, patrãozinho, já viu o pacote da troika?”
Estremunhado e assarapantado com o inusitado alvoroço, não consegui discernir a mensagem da mulher-a-dias e respondi-lhe com azedume, voz rouca e olhos arremelgados, o que me veio à cabeça, ao mesmo tempo que me virava para o lado contrário procurando posição para continuar o repouso – “Nem o pacote nem as maminhas! Deixa-me mas é sossegado que ainda é madrugada!”.
O raio da mulher não percebeu a interjeição e, acto contínuo, atirou a esfregona ao focinho do patrãozinho, deixando-me a cabeça à razão de juros. A que taxa? Não sei. Só sei que o FMI acabara de fazer a sua primeira vítima.

03/05/11

Horário Nobre




Pinto de Sousa aguardou que o árbitro desse por concluída a primeira parte do Barcelona – Real Madrid para falar ao país. Não o cheguei a ouvir. Aproveitei o intervalo do jogo para fazer uma mija e beber uma mini. Eu e mais uns quantos portugueses.
Este é mais um facto que revela a forma como os merketers da política tratam a carneirada: as questões maiores são despachadas nos intervalos dos jogos da bola.
E ainda agora a campanha vai no adro...

01/05/11

A Trilogia dos éFes (III) - Fado




Na sala sumptuosamente decorada com reposteiros de damasco de cor púrpura, porcelanas das Índias, tapeçarias persas e um opulento contador do século XV, laboriosamente trabalhado em madeira de ébano, soaram os primeiros trinados. O fadista, ignorando as resmas de facturas e contas por pagar que atafulhavam o secular contador, e os credores que do lado de fora da sala esfregavam as mãos de gulosos, fechou os olhos, inspirou fundo e fez soar com paixão estudada uma voz canora de pretendente a arcanjo celestial. O fado era conhecido e a letra rezava mais ou menos assim:

    Que triste fado o meu
    Tudo fiz p’ra te salvar
    Deus sabe o que sofri
    P’ra não chamar o FMI
    E não te deixar afundar

    As culpas que eu não tenho
    Outros por certo as terão
    Pois nesse dia atribulado
    O PEC não foi aprovado
    Por vingança e ambição

    Estou disposto a perdoar
    A quem tanto mal nos quis
    Não é uma união nacional
    Mas apenas um sinal
    P’ra salvar este país

… e assim por diante, enquanto por detrás do fadista um coro de diligentes pavões pupilava a melancólica melodia, lembrando o lamento lôbrego do cativeiro, cantado das entranhas de um barco negreiro.
Terminada a função, sem grande brilho, a guitarrista guardou o instrumento no saco e partiu para umas bodas reais na ilha Britânica, enquanto que o modesto fadista, evidentemente satisfeito com a sua prestação, recolheu a dormir o sono dos justos, deixando a luz da sala acesa e as janelas escancaradas ao pupilar dos pavões.
Não muito longe dali, numa outra tertúlia fadista de não menos fausto e jactância, um marujo alto e espadaúdo procurava cativar uma plateia pejada de serafins e querubins, gente letrada e finória que derramava medidas e sabedoria a rodos, e que em uníssono lhe pediam de forma incessante por outro conhecido fado – “Queremos sociedade - queremos mais sociedade! Queremos sociedade – queremos mais sociedade!”.
Imperturbável, o viçoso fadista levantava a mão em gesto de assentimento e retorquia com um subtil sorriso nos lábios e uma piscadela de olho ao guitarrista - “Calma, calma, chega para todos. Anda Catroga!”