28/02/13

Se eu hoje pudesse dar-te um abraço




Ainda não morri !

Ainda não morri!
Embora todos os dias
morra um pedaço
e seja cada vez mais duro
o esforço que faço
para me manter inteiro,
direito,
ainda que imperfeito.

Ainda não morri!
Mas todos os dias faleço
quando tomo consciência
dos cruéis e ignóbeis preços
que se pagam à demência
prá conquista do poder,
do dinheiro,
da vaidade,
do prazer,
da exaltação do egoísmo,
descarado e sem pudor
ou mascarado de altruísmo.

Ainda não morri!
Mas vou-me sentindo um estranho,
derivando neste mundo.
Não por achá-lo imundo,
mas por nele ter mergulhado
completamente nu,
desprovido de escudo
da minha salvaguarda. 

Ainda não morri!
Mas, dia a dia, é mais árdua
tão erecta caminhada...

 
Luis Filipe Cardona

 

25/02/13

Solução Final

Quando há uns anos contei a saga da minha ída ao mercado na antiga Resinagem, propus a mim mesmo não mais voltar à vaca fria, porque a experiência tinha sido traumática e porque neste tipo de assuntos a discussão é tudo menos séria.
Manda porém a razão e o bom senso que, controlados que foram alguns dos efeitos do stress pós-traumático do atribulado episódio, com a ajuda especializada duma psicóloga fogosa e habilidosa de mãos, que me devolveu a coragem de voltar a enfrentar uma “praça” de cabeça erguida, volte por instantes ao tema para sublinhar a honestidade intelectual e até a coragem com que o ex-vereador Armando Constâncio continua a defender que o mercado municipal seja instalado no Atrium.
E se dúvidas houvessem, o facto é que continua a ser uma das poucas pessoas (a outra talvez seja moi-même) que em oito anos, repito, oito anos, continua a apresentar uma solução para aquele espaço – dar-lhe o fim para o qual foi construído. Chiça-penico, que complicação…
A verdade é que sobre este, e outros assuntos, a esmagadora maioria dos opinantes fala de cor e salteado do que não sabe nem conhece, formando opinião com base no rigor científico dos bitaites de ilustres estudiosos do tema, como o investigador bolseiro do MCI e quejandos, figuras que incontornavelmente não têm qualquer reserva mental em relação ao assunto.
Mas mais grave. A bipolaridade atingiu (e atinge) contornos tais, que os mesmos que esconjuraram a solução das barracas e que denunciavam as manobras rasteiras para a não utilização do Atrium, como a providência à cautela e o célebre estudo cuja conclusão final era o próprio mote do mesmo, arrumaram a razão na gaveta que o tio Mário lhes legou em testamento, demitiram a inteligência sem lhe pagarem qualquer indeminização, e engrossaram a horda do folclore - prometeram numa campanha de mangas arregaçadas, o fim das barracas e um terceiro mercado novinho em folha, com corta-fitas boticário e churrasco de vacas magras à discrição.
Se quiserem discutir o assunto com seriedade, aceito. Se quiserem insistir nas considerações vagas e genéricas, faço-me desentendido. Porque mesmo admitindo que houve erros, o que é absolutamente verdade, deixo no ar a questão essencial: qual é o problema inultrapassável para pôr o mercado a funcionar no Atrium? Digam-me um, apena um, que eu saio de fininho e volto de novo a procurar apoio psicológico no divã da libidinosa discípula de Freud.
A ver se é desta que isto anima.

22/02/13

Chouriço de Cavalo


Os vestígios de carne de cavalo estão por todo o lado e desvendam-se à velocidade dum já-te-foste. Comer gato por lebre é o prato do dia, vezes sem conta, e sem que o chefe vacile ou pestaneje, enquanto escreve a letra de contornos rocócó, a rica ementa que irá saciar à míngua os distraídos comensais: “lebre de Mourão em cama de grelos, e aveludado de castanhas de Carrazedo de Montenegro, cozidas ao vapor de etílicos de eleição - Touriga Nacional e Trincadeira”. O gato era o da vizinha, os grelos estão amarelos, as castanhas são made-in China e o vinho é zurrapa do Soutocico.
Noutros tempos, nos ídos em que a palavra e a honra eram o sinete com que os Homens eram marcados à nascença, ser apanhado em falso era mais que motivo para a vergonha e para uma certidão de óbito por enforcamento, assinada pelo descrédito e pelo punho do enforcado. Mas isso eram outros tempos…
Agora, prioritário mesmo é elevar, com enlevo, à condição de querubins e serafins, as réplicas de nariz tumescente de Mestre Geppetto, produzidas em série pelas máquinas de injecção partidárias e pelas máquinas de insuflação dos egos e das vaidades da sociedade civil.
É por isso que Relvas tresanda a carne de cavalo e é por isso que governo e maioria vêm em defesa da sua honra, mais alva e imaculada que o lençol duma rameira. É preciso enunciar ao povo que entoa a senha da revolução de que quando um burro fala os outros devem permanecer de orelhas murchas? É bom que não se esqueçam que Relvas tem direitos constitucionais garantidos como, a liberdade de expressão, a liberdade de opinião, as licenciaturas por correspondência em feriados e dias santos de guarda, as passagens de ano em Copacabana com os irmãos Metralha, e até, sublinhe-se, e até, a balbuciar a Grândola Vila Morena com ar de cachaceiro e sorriso cínico, enquanto o povo violenta as suas aulas de sapiência. Mas Relvas tem mais, tem o direito constitucional de meter nojo e tem o direito divino de representar os mais nutritivos e ricos preparados de carne de vaca, produzidos a partir de equídeos das melhores origens e proveniências, tudo a bem dos mercados e da credibilidade que lhes é preciso afiançar. Não importa se o povo estrebucha ou se sucumbe, se se sente esganado, extorquido ou empalado, o importante é fazer-se silêncio enquanto as guitarras trinam e o fadista relincha.
Se eu fosse José Viegas mandaria Relvas tomar com chouriço de cavalo, mas como não sou, limito-me a constatar que a carne é fraca.

 

18/02/13

A um amigo


Desde quarta-feira que não o vejo. Deixou uma nota, com uma única palavra... e um poema de Vinícius de Morais. Se o virem deixem-lhe esta mensagem do Sérgio. Vai da minha parte, com um abraço.
 
(pelo B Fachada)
 
 
 
 
 

14/02/13

Em Desacordo Ortográfico


 
Francisco José Viegas avisou o seu ex-colega de governo Paulo Núncio que, caso fosse incomodado por um “fiscal das Finanças” à porta de um qualquer estabelecimento de restauração e bebidas ou de alterne, solicitando-lhe a factura do estrago, o convidaria a “tomar no cu”.
É evidente que Francisco José Viegas, que há já algum tempo, coincidente com a sua saída do governo,  não frequenta bordéis, só disse o que disse porque é um homem letrado e ex-Secretário de Estado da Cultura, defensor do novo acordo ortográfico, preferindo assim a forma brasileira aligeirada ao incisivo vernáculo lusitano. Obviamente que se fosse eu não mandaria o dito fiscal, o seu chefe e o chefe do seu chefe “tomarem no cu” mas sim “levarem no cú”. Em português suave.
 

Chamada Geral




Não se estarão a esquecer de alguém? É que isto é malta que come muito queijo...

11/02/13

A montanha pariu um Largo


Afinal, aquilo que pareciam ser diferenças programáticas fundamentais, normais numa democracia de gente com coluna aprumada e glândulas no escroto, transformou-se, num passe de prestidigitador estagiário, numa profissão de fé à visão estratégica dum líder anémico e pusilânime, confessada numa folha de papel azul de 25 linhas prontamente assinada de cruz pelos eméritos representantes dos inúmeros aspirantes a futuros lugar-tenente de carreira, a expensas da nação e esbulho do povo.
O que o país precisava era de políticos de costas largas, costas musculadas, dispostas a correr riscos e a dar o corpo às balas, sem calculismos, sem medo de pensar e de assumir que as crises se vencem pela massa cinzenta, pela coerência, pela perseverança, pelo bom senso - isso, pelo bom senso! – invertendo a lógica que afunda os partidos num abismo que só eles próprios ainda não perceberam. É que os líderes dos partidos, e mais que potenciais representantes dos cidadãos eleitores, não são os capazes nem os competentes, são antes os que conseguem ter a meia-dúzia de militantes concelhios num bolso e os restantes poderes instalados no outro. São os gajos que dominam o aparelho, que por vezes é tão pequeno, que bastaria meia excursão de reformados para eleger um líder concelhio, distrital ou nacional, putativo candidato a alcaide, tribuno ou mesmo chefe da governança. Se tivessem a coragem de se sujeitarem a primárias, haveriam de ver o que era doce.
Só que lá como cá os Largos estão pejados de ratos que chafurdam na gamela da politiquice rasteira e no lodo da intriga, mas que saltam borda fora logo que a bombordo ou a estibordo uma vaga de maiores dimensões ameaça alagar a casa das máquinas. E o mais irónico (e curioso), é que pelos vistos o povo gosta. Gosta e pede mais.
Uma vez mais a montanha pariu um Largo. De ratos.
 

07/02/13

JOAQUIM CORREIA (1920-2013)





Caminhada

    É para além do mar a ansiedade
    De se partir, de ir e não voltar!...
    É para além das ondas sem chegar,
    Que uma voz me chega de saudade...

    É para além do mar a eternidade
    Que o infinito tem para guardar!...
    É para além das ondas a chamar
    Que sonho a vida, toda f'licidade!...

    É para além da morte o horizonte
    Que o mistério nos guarda, toda a vida,
    Quando, em suave vento, sobre o monte,

    Olhando a caminhada percorrida,
    Eu possa descansar, beber da fonte,
    E estar, novamente, de partida!...
 

José Martins Saraiva

 

06/02/13

Teste de Stress

 

La semaine dernière, enquanto no parlamento os deputados se entretinham a preparar a grelha de programas para o Canal Relvas, de novo apostada em reconquistar a lavoura, por cá a “velha guarda” escrevinhava (em jeito de…) conselhos a pataco para a “rapaziada” que tomou as dores de pôr em movimento um, movimento. Não é que o assunto não tivesse por onde discorrer, o problema é que a mão da “velha guarda” tremeu – vá-se lá saber porquê! – e o tiro de canhoeira tosca saiu mais de meia milha náutica ao lado. Mas a tragédia podia ter sido bem pior pois, não satisfeita, a “velha-guarda” virou a arma para si própria, inspeccionando de forma displicente o cano ainda fumegante. Felizmente estava descarregada e não causou mossa de maior, para além da cara mascarrada e dos colarinhos da camisa alva, maculados do mesmo negro pólvora-seca.
Se a forma foi desastrada, revelando laivos de um pré-conceito moral de superioridade próprio de quem não tem pudor em “arregimentar” a favor do seu estatuto de conselheiro contas de outros rosários, as quais exigiriam a descrição e o recato de um bom samaritano, o conteúdo não o foi menos. Afinal de contas a maioria dos conselhos oferecidos em salva de prata, mas requintadamente temperados com essência de fel e extracto de bílis, serviriam que nem uma luva para um exame de auto-crítica. É que afinal não se percebe como é que alguém que anda na política há tanto tempo, militando num partido do arco do poder, useiro e vezeiro em promessas e garantias sem fundilhos, vem agora esconjurar as juras dos outros. É que afinal não se percebe como é que alguém que conviveu com gente sem escrúpulos sedenta de tachos e de lugarzinhos, apenas o revele quando supostamente esses “vira-casacas” se passam para o outro lado. É que afinal não se percebe como é que alguém que milita num partido do arco do poder e que para além disso ganha a vida na defesa dos outros, venha sugerir que o passado revela sempre o que será o futuro, pois que o currículo e o mérito são o salvo-conduto para um lugar na boa gestão da coisa pública, como se isso fosse verdade no seu próprio partido e revelando ainda que não acredita na reinserção e na regeneração dos indivíduos. É que afinal não se percebe como é que alguém que aconselha os outros a não dizer mal se entregue a um exemplar exercício genérico de má-língua, ainda que algum concorrente na arte o possa considerar arrasador.
Fica-me contudo uma dúvida. Se ainda agora os pardais se começaram a labuzar (de forma desastrada, no modo e no conteúdo, digo eu que não pesco uma…), com os primeiros milhos e já a “velha-guarda” vem à liça para marcar território, o que não será quando o cereal começar a jorrar a granel!?...
Vamos a ver quem é que aguenta o teste.
 

05/02/13

Drogaria do Sr. Leonel

 
- Bom dia Sr. Leonel.
- Bom dia menino Relaxoterapeuta. O que é que precisas?
- A minha mãe mandou-me comprar 50 gr de bicarbonato de sódio, 10 rolhas de cortiça e um piaçaba.
- Com certeza, é para já.
- Bom dia Sr. Leonel.
- Bom dia D. Efigénia. O que vai desejar?
- Acho que tenho um rato na padaria. Hoje dei conta de um saco de farinha ratado.
- Não se preocupe D. Efigénia, tenho aqui um produto novo que vai já tratar da saúde a esse malandro.
- Bom dia Sr. Leonel.
- Bom dia menina Marquinhas. Em que lhe posso ser útil?
- Queria verniz para as unhas.
- Nem de propósito menina Marquinhas. Chegou agora mesmo uma encomenda com cores lindíssimas.
 
São estes e outros diálogos que me trazem à memória um centro da cidade com vida, com gente boa, disponível, como o Sr. Leonel.
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É bom que pseudo-regedores, proto-regedores e putativos encalhados não percam a noção de que o problema do centro histórico se resolve com pessoas (e com as pessoas). Tudo o resto é conversa fiada e tempo perdido. Estamos conversados.
 

04/02/13

Alvitre - Mini Remodelação


Proponho para Secretário de Estado da Administração Patrimonial e Equipamentos do Ministério da Justiça o Dr. João Vale e Azevedo e para Secretário de Estado dos Assuntos Fiscais um dos irmãos Metralha. A menos que o CDS não esteja de acordo.
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