11/05/11

E o futuro, pá?



Sacadura Cabral, PP para os frequentadores do mercado do Levante, com evidente contrariedade democrática, lá admitiu que tinha sido ele a comprar os submarinos, mas sublinhou, alto e bom som, que esse pequeno luxo apenas contribuíra para um aumento de 0,5% do endividamento do país, uma gota de água no oceano que se têm entretido a esbalgir. Apenas uns míseros 0,5%.
Pinto de Sousa, que sempre detestou gente gastadora e ronhosa, não se conteve e contra-atacou – “Sim foi o senhor que os comprou, mas fui eu que os paguei!”. É pá, não se faz!...

Eu, que já suspeitava da irrelevância dos debates pré-eleitorais e de outras manifestações telúricas de dimensão semelhante, vejo confirmada a minha tese - o que continua a interessar às forças políticas são a táctica e a estratégia eleitorais e nunca a discussão séria e ponderada do que verdadeiramente está em causa. O guião está escrito e, tirando as frequentes dessincronizações resultantes de papéis mal decorados e da fraca performance de actores mal amanhados, vamos passar quase um mês a ouvir sistemática e constantemente os mesmos argumentos. É pena.
A mim, cidadão reformado do Casal da Formiga e inveterado coleccionador de sonhos, o que me interessa verdadeiramente neste momento é o futuro, já que o passado está nú e crú e o presente hipoteca grande parte das nossas expectativas, já que a soberania se resume a um “mero” caso de virgindade perdida – já era.
A ajuda financeira que aí vem, suportada por imposições que não deixam grande margem para malabarismos e que enxotam a legitimidade democrática para debaixo do tapete, absorvem a parte de leão dos futuros programas de governo – é claro que me refiro apenas aos partidos que vêem essa ajuda como inevitável – pelo que a discussão sobre os cortes e aumentos, em grande medida, é foguetório. Então e o que sobra? Sobram algumas opções sobre os tais cortes na despesa e no aumento da receita, e sobra (sobretudo) o futuro!
É evidente que para mim, pacato cidadão do Casal da Formiga que sempre gastou menos do que aquilo que tinha e que sempre contribuiu com o seu quinhão para redistribuir, e para o resto, gostaria que os partidos discutissem a forma e o modo como pretendem fazer inverter uma situação que ainda nos poderá levar ao abismo, gostaria que os políticos discutissem como vamos criar riqueza para pagar a factura, e para o resto, como vamos assumir que somos um país de e com futuro.
É evidente que para mim, pacato cidadão do Casal da Formiga que apenas pretende ser feliz, esta discussão só faz sentido se for rigorosa, se dispensar dislates e arrufos de lampinhos, e sobretudo (sublinho: sobretudo!) se tiver uma natureza vincadamente ideológica, pois de nada serve trilhar caminhos paralelos que levam a nenhures se podemos inventar o progresso e o futuro fazendo escolhas, opções políticas, arriscando apostar que não é uma inevitabilidade ter nascido português suave. E por favor, poupem-me à lenga-lenga das culpas e dos desculpados, dos bons e dos maus rapazes, pois todos têm submarinos no armário. E TGV’s também. Sejam sérios por uma vez!


1 comentário:

  1. "Sejam sérios por uma vez!"... pois é caríssimo Relaxoterapeuta, o difícil para os nossos 'queridos' políticos é mesmo essa coisa de serem sérios. Não este ou aquele, não um ou outro, mas todos eles!
    Ninguém se atreve a dizer-nos a verdade e todos eles têm demonstrado terem 'calendários e programas escondidos'!

    No entanto, impõem-se que façamos uma pergunta que se me afigura inevitável: será que se algum desses políticos se atrevesse a dizer-nos a verdade, será, dizia, que teríamos a maturidade suficiente para lhes endossar a nossa confiança atribuindo-lhes a responsabilidade de governarem os nossos destinos?

    Infelizmente tenho muitas dúvidas!...

    ResponderEliminar