Nos finais do século IX, para fazer
pirraça ao triunvirato de serviço e para dar aos crentes e não crentes uma folgazinha
há muito reclamada pelo Sindicato dos Decoradores de Sepulcros, Gregório IV, um
papa que, tal como os seus três antecessores, regorjitava sempre que o limite
de lácrima-crísti emborcado de penalty, excedia a capacidade instalada de
destilação (fixada em dois almudes), decidiu proclamar que a festa de Todos os
Santos se celebrasse invariavelmente no primeiro dia de Novembro, pelos séculos
dos séculos.
A coisa foi andando, andando, até
que uns séculos (e uns almudes de zurrapa) depois, um trio de jagunços carregados
de notas de 5€, acabadas de imprimir na China, aterrou na Portela e soprou ao
ouvido do serventuário que os tinha requisitado, não ser mais possível admitir
tanto folguedo, tolerar tanta rambóia. Com o país à míngua, a carneirada tinha
de ser imediatamente retirada do redil e tosquiada repetidamente, até espiar os
pecados acumulados por viver acima do suposto. Gregório IV rodou 180º sobre si
próprio dentro da tumba, ficando a baloiçar sobre a proeminente pança, entre o
incrédulo e o escandalizado. Se o espaço o permitisse ter-se-ia benzido para
esconjurar a blasfémia. Se o espaço fosse ventilado, teria regorgitado de nojo.
Ironia das ironias, quis o destino
que fosse agendada para o primeiro 1 de Novembro roubado ao ócio, a votação do
OGE para o ano da desgraça de 2014, obrigando governo e deputados, enfarpelados
de bruxas e duendes com cabeça de abóbora, a esmolarem Pão por Deus ao povo do
cimo das escadarias do mosteiro de São Bento da Vitória.
Lamentavelmente, ao contrário do que
o papa Gregório estabeleceu, hoje não se celebrará o Dia de Todos os Santos.
Hoje assistimos indignados, muitos de braços caídos e estomago vazio, à votação
final do OGE, sem grande confiança no porvir e sem grande fé nos que do cimo
das escadarias do Mosteiro de São Bento da Vitória festejam o halloween. Porque
lamentavelmente não há santos para adorar. Porque todos, mas mesmo todos os que
hoje votaram o orçamento, em maior ou menor grau, por acção ou omissão, são
responsáveis pela nossa falta de esperança. Ou será que alguém acredita que
estamos no bom caminho e que este é um orçamento de redenção?
Até quando vamos ser cúmplices desta
tragédia semelhante à grega?
Até um dia destes...
Adeus e boa viagem...
ResponderEliminarE qual é a alternativa sr. Relaxado?
ResponderEliminarCaro Relaxoterapeuta.
ResponderEliminarMais um excelente escrito onde se nota que o aparo está cada vez mais afinado. A crítica demolidora aliada a uma fina ironia, tornam os seus textos um bom exercício que ajuda a engolir a "Zurrapa" com que nos querem "embebedar".
Abraço
Rodrigo
Os textos do relaxoterapeuta continuam uma bela merda. Tem a mania de intelectual mas não passa dum oportunista. Seria bem emlhor se denunciasse o que vai mal no seu partido e cá pela terra. Mas isso näo o preocupa.
ResponderEliminarJá sei quem è o gajo e posso confirmar que nâo vale nada. É mais um lambe botas.
ResponderEliminarTextos para ler, rever e guardar.
ResponderEliminarEscrever assim, não está ao alcance de qualquer um. Gil Vicente não fez melhor.
Pelo gozo que me dá lê-lo, só tenho que lhe agradecer por se manter activo neste seu blog, por muito que a sua escrita baralhe algumas mentes pouco brilhantes.
O relaxoterapeuta é o Carlos Carvalho.
ResponderEliminarNão é nada. O relaxoterapeuta è o Tozè Ferreira.
ResponderEliminarÉ o Sérgio que também escrevia para o Jornal. "Relaxoterapeuta" que está relacionado com a sua atividade de tirar dores (diz ele).
ResponderEliminarÉ o Arnaldo Matos.
ResponderEliminarNão, ê a prima do Logrado.
ResponderEliminarNão, o relaxoterapeuta é o Necas.
ResponderEliminarComo é habito, mais um excelente texto.
ResponderEliminarComeço a ficar surpreendida com as visitas, alguns comentadores não gostam, mas pelo menos, dão-se ao trabalho de ler, o que já não é mau...
Os comentários estão ao nível da prosa.
ResponderEliminarDe facto é triste ver um dos melhores prosadores da nossa Praça ser assim enxovalhado por uma cambada de ignorantes a coberto (cobardemente) do anonimato.
ResponderEliminarIsto de dar pérolas a PORCOS...
Tenho alguma dificuldade em perceber certas "manifestações espontâneas", mas enfim, cada um tem o que merece.
ResponderEliminarMais um post magnifico sob todos os pontos de vista e mais uma pedrada no charco da blogosfera marinhense. Uma escrita superior que, como um vício, nos habituámos a esperar do Relaxoterapeuta.
ResponderEliminarMais uma vez ponderei e desta vez decidi-me por este apontamento, que nos leva à controvérsia do uso legítimo da liberdade e da fronteira a partir da qual, o insulto ou a intencional falta de sentido dos comentários, passam a ser limitações à liberdade de quem frequenta e lê, neste caso os contributos valiosíssimos do ponto de vista crítico e literário que aqui o autor nos oferta.
E por uma vez, acho que só quem não sabe o que custou a liberdade pode usá-la de forma tão desprezível como se lê em certos comentários. Mais grave ainda é quem o faz a coberto do anonimato, que assim usado, revela o carácter de quem já não se dá ao trabalho de procurar sair da lama onde se habituou a viver chafurdado.
Apesar dos constrangimentos que também sinto e adivinho no autor, aqui se levanta uma questão, que é a de saber se na defesa de um direito maior não deveria, pelo menos, o responsável pelo blog condicionar a publicação dos comentários que considerasse impróprios à divulgação do seu autor.
Bem sei que é um terreno movediço, mas talvez também não deixasse de ser um contributo para a educação cívica e para a reabilitação destas almas penadas. Por mim. tentarei sempre que quem se senta à nossa mesa, possa continuar a escolher o que come, mas passe pelo menos a comer de forma civilizada.
Subscrevo, na íntegra, o comentário do Vento Norte, que cumprimento pela elevação com que participa nestes foruns da blogoesfera.
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