Desde que o vizinho Inácio me atirou de chofre – “Ouve lá ó sabichão, afinal quem são «Os Mercados»”? – que sinto a vergonha da ignorância e do atrevimento pungirem-me o ego, uma espécie de angústia corrosiva e obcecante que tem provocado danos colaterais - insónias, fastio e um bloqueio inusitado da libido. “Mas afinal quem são esses tipos que tenho insultado e zurzido com modos de fazer corar o Escabroso? Como é possível que eu, um fulano de educação esmerada, delicadamente moldada a pau de marmeleiro, ande a ultrajar a mãezinha de quem nem imagino o focinheira?”. Vergonha! Vergonha!
Mas hoje caraifos, hoje finalmente vou dormir sossegado e sair desta letargia que me tem tolhido membros e partes sensíveis, caraifos. É que o Sr. Silva, independente de me ter pregado um raspanete à conta dos insultos grátis - que se quilhe! - fez finalmente reluzir a estrela da sabedoria que parecia ter-se colapsado forever do meu mirrado encéfalo. Afinal, afinal esses misteriosos credores de face invisível, esses enigmáticos mecenas que apenas querem aquilo a que têm direito, são simples “companhias de seguros, fundos de pensões, fundos soberanos, bancos internacionais e os cidadãos espalhados por esse mundo fora”, tudo gente honrada e trabalhadora a carecer carinho e atenção, veneração, devoção, m-u-i-t-o m-i-m-i-n-h-o!, diria mesmo. Mas se o problema é esse, cá vai para acalmar os ditos: “Abençoados sejam os mercados, Hossana, Hossana!” - e já agora vejam lá se fazem uma atençãozinha à gente, t’á bem?
E ao Sr. Silva o meu muito obrigado, agradecido pelos seus cuidados e por me ter resgatado do adiáfano manto da ignorância.
Os "mercados" que o Sr. Silva venera, são os mesmos que alimentaram a bolha imobiliária nos EUA, que levaram a Islândia a apostar na economia de Casino que a levou à bancarrota, que satisfizeram a gula do lucro fácil da Banca Irlandesa e como consequência puseram o Governo Irlandês de cócoras.
ResponderEliminarMas a identificação dos "mercados" feita pelo Sr. Silva é demasiado redutora. Em sentido lato, "os mercados" são o espelho de um sistema capitalista que está a dar sinais de fim de ciclo.
"Os mercados" são só as ferramentas.
Porque sou um fã do seu estilo de prosa, quero cumprimentá-lo pela qualidade com que escreve e do que escreve.
Boas Festas se for possível.
Ilmo. Vinagrete,
ResponderEliminaré bom saber que não ando por aqui sozinho. Agradeço com apresso as suas palavras (ainda por cima vindas de um conterrâneo do Casal da Formiga).
Quanto ao resto, usei da mesma ironia que o Sr. Silva, o Sr. Barroso e demais responsáveis políticos usam quando nos falam da sensibilidade virginal dos "mercados", omitindo sistematicamente a outra parte da questão, uma Europa fraca politicamente, que deixa correr o marfim ao ritmo dos apetites insuspeitos das agências de rating. É por isso que cada vez mais me interrogo sobre este modelo de UE e sobre o seu futuro.
Caro Relaxoterapeuta
ResponderEliminarNão sou própriamente um seu conterrâneo do Casal da Formiga. A minha ligação ao Casal da Formiga foi para aí há 45 anos quando fui com 10 trabalhar para a extinta M.P.Roldão. Só durou 1 ano (+-) porque entretanto fiz 11 anos e mudei de estatuto, já pude ingressar na FEIS o que representava na altura uma mudança de estatuto apreciável.
Mas o que queria dizer é que o meu caro não anda para aí sózinho. Creio que a sua forma de saber dizer, vai fazer com que muitos de nós que o apreciámos no nosso querido largo, continuamos a esperar ávidamente cada um dos seus escritos e a desejar que não lhe falte a "tinta" pois há muito que dizer e até parece que cada vez mais.
Já agora e ao jeito do Vinagrete, um bom 2011 (se for possível)
Abraço
Que bom seria termos alguns que se dizem escritores e jornalistas a prosar como o amigo.
ResponderEliminarAcredite que não anda sozinho, basta ver que abriu esta cantinho ha um mês e já teve mais de 900 visitas. É um prazer ler os seus escritos e muitas vezes não comento por falta de tempo ou tao somente para não estragar o contorno das suas palavras.
Quanto aos mercados, acredito que se os maestros não tivessem andado tão tristes e alegres, concerteza não teriamos tantas rosas e silvas, e ficariamos imunes aos mercadores.
Meu caro Relaloxoterapeuta,
ResponderEliminarDesde que teve a gentileza de nos presentear com os seus textos nos primórdios do extinto (!?, recuso-me à ideia!...) Largo das Calhandreiras que o leio e admiro o que escreve.
Não faço ideia de quem seja, mas não é só na escrita que me identifico consigo, pois as ideias que veicula também me são bastante próximas.
Não admira, pois, que goste do que escreve e como escreve.
Não me surpreende que o sr. Silva se vá sentindo preocupado pelas reacções que se vão manifestando perante os desmandos dos tais mercados. Ele, que não é parvo, sente que, a cada dia que passa, vai em crescendo o número de pessoas que se interroga com a história da influência dos ditos mercados sobre as vidas dos mortais que os seus mentores teimam em querer tratar como escravos ao seu serviço.
A propósito, deixo esta perguntita para reflexão: já se aperceberam (certamente que sim) da forma consertada como eles, os tais mercados, se vão movimentando de forma a cercarem as suas vítimas? Hoje uma, logo a seguir a outra... Mercados!?...
Salteadores, agiotas e cleptómanos sem rosto e sem dignidade é o que são os ‘mercados’!
Bom Ano para si e bons escritos.
Acintoso