18/12/10

ACONTECE



 
O mais intenso e inebriante aroma que alguma vez respirei, o mais belo e resplandecente anil que alguma vez fixei, o mais harmonioso e intenso som que alguma vez escutei, o mais delicado e apurado paladar que alguma vez saboreei, a mais interessante e voluptuosa mulher que alguma vez conheci, não eram fátuos. Eram palavras, pontuações, metáforas e hipérboles que li em livros, ensaios, contos, poemas e memórias. Porque as palavras são a vida e é nas palavras que encontramos os verdadeiros travos, tons, melodias e perfumes. Porque as palavras não são para gastar, mas para usar com gosto e temperança, os mesmos que o sal empresta ao apuro do paladar, na sua justa e exacta proporção. Porque a palavra é tudo e é nada.

Carlos Pinto Coelho era um homem da palavra e por isso estou-lhe imensamente grato. Mas lamento profundamente que o meu país se dê ao luxo de desperdiçar homens como ele.


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