Hoje, na data em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos e em que, em Oslo, se entrega o Nobel da Paz, passei o que sobrava da manhã a arrumar as gavetas da velha escrivaninha que herdei da minha tia Felícia, uma escrivaninha de carvalho polida pelo tempo, mas sem mácula de caruncho, onde apenas a palidez do verniz e o ranger das dobradiças do tampo denunciam a idade e os segredos escondidos nas filas de gavetas e de pequenas prateleiras sobrepostas.
Abri um envelope amarelecido pelo tempo e descobri lá dentro, em excelente estado de conservação, uma boa dúzia e meia de fotografias a preto e branco em papel Kodak. Com as mãos involuntariamente trémulas e as pulsações cardíacas ligeiramente alteradas, desfiei-as uma a uma com o vagar e o respeito que o feliz reencontro exigia. Senti os olhos húmidos ao reconhecer o meu pai e os irmãos, o meu avô José, alguns tios, primos e primas, amigos da família. De entre eles reconheci um. Um homem alto, fino e distinto, com um sorriso contagiante e um olhar terno, de uma humanidade indescritível. Usava óculos de aros de tartaruga, vestia fato escuro impecavelmente engomado, e nas mãos segurava um chapéu. De imediato viajei no tempo e pude reencontrá-lo diante de mim, de bata branca e estetoscópio, observando com rigor as minhas amígdalas - “Vá lá, ainda não é desta que morres!” – brincava ele comigo. “Ó Senhor Doutor” – replicava a minha mãe – “olhe que ainda me assusta o garoto.”
Este feliz e comovente reencontro com o Dr. Coelho dos Santos, fez-me também recordar aquilo que há já algum tempo o amigo Folha Seca tinha sugerido – para quando uma justa e merecida homenagem a este magnífico Homem? Fica o mote, na mesma data em que se comemora o Dia Internacional dos Direitos Humanos e em que, em Oslo, se entrega o Nobel da Paz. Um prémio que lhe assentaria como uma luva.
______________________
Nota de rodapé: exorto a CMMG a tomar em mãos uma (mais que merecida) homenagem a este Homem Maior, enquanto é tempo. E a todos os que comigo comungam desta gratidão, exorto-vos a darem o vosso testemunho ou a deixarem uma palavra de reconhecimento, a figurarem em lugar de destaque neste blogue. Será para já o nosso modesto contributo. Oxalá lhe cheguem esses ecos de gratidão.
Caro Relaxoterapeuta
ResponderEliminarAgradeço a referência, mas sobretudo a recordação deste homem bom que marcou diversas gerações de Marinhenses. Sim estamos a deixar os melhores filhos desta terra (por nascimento ou adopção)partir sem a mais que merecida homenagem, pelo que por ela fizeram.
Segundo sei o Dr. Coelho vive numa instituição de saude em Leria. Esperemos que esta mais que justa lembrança, não fique em saco roto.
Abraço
Muito boa noite Sr Relaxoterameuta
ResponderEliminarFico feliz, em encontrar este blog, que foi sugerido amavelmente pelo Sr Folha Seca, irei segui-lo sempre que puder.
Em relação aos HOMENS MAIORES, tenho a dizer que me lembro, desde muito nova, a minha mãe dizer que o Sr Dr Coelho era um homem muito bom para toda a gente, em especial para os mais necessitados, que a Celeste (conhecida na Vieira por Benilde) paria os seus filhos na sua casa de saúde na Mª Grande, rodeada de todos os cuidados e que não pagava um tostão. Este é um só exemplo de bondade, a homenagem sugerida é mais que merecida.
Um abraço
Aplaudo, de todo o coração, uma proposta como esta.
ResponderEliminarO dr. Henrique Coelho dos Santos, de quem sou amigo desde que me conheço, (e já lá vão tantos anos!...) é um Homem que merece uma homenagem pública pelo muito que fez pelas gentes da Marinha Grande.
Sendo que muito o prezo e admiro, há uma coisa nele que sempre me surpreendeu de uma forma especial e essa era o conhecimento que ele tinha de toda a gente desta cidade e lugares circundantes. Sempre que falávamos em tempos idos, hei-lo a desfiar recordações desta e daquela família! Era tal a forma como se referia às pessoas e às relações de parentescos que eu, nascido e criado nesta terra, ficava muitas vezes 'em branco', situação de que me salvava com pormenorizadas informações sobre quem se tratava.
Foi médico de família lá de casa e, sabendo ele da estreita ligação de afecto que a sua saudosa esposa me dispensava, ele acolheu-me como se eu fosse mais um dos seus filhos!
Hoje, infelizmente, pouco mais me resta do que fazer-lhe de vez em quando uma visita...
A lei inexorável da vida vai marcando o seu curso, mas esse Homem Bom continua a ocupar no meu coração um lugar que jamais o tempo apagará.
Que merecida homenagem seria essa!
http://largodascalhandrices.blogspot.com/
ResponderEliminarO Dr. Coelho foi o médico que assistiu ao meu nascimento, em casa, no Casal da Formiga, no já longíncuo ano de 1948.
ResponderEliminarFoi o médico da nossa família durante muitos anos, acompanhando as minhas doenças de pele, a bronquite, etc.
Há alguns anos, creio que na década de 80, no SOM, realizou-se uma palestra promovida por uma Associação para o desenvolvimento Económico da M. Grande, onde ele foi orador.
No fim da palestra, o Dr. Coelho fez questão de me entregar as minhas fichas clínicas, por ele manuscritas, de 1948 a 1958. Durante mais de 30 anos, este homem bom, guardou arquivos que são memórias de uma parte das nossas vidas. Estes gestos marcam as pessoas que os protagonizam e é por isso que me solidarizo com o autor deste Blog, que não conheço, mas aprendi a admirar pela excelente qualidade dos seus textos.
Se há pessoas a quem a nossa terra tanto deve, uma delas, é o Dr. Coelho.
Agradeço do fundo do coração a todos quantos deixaram o seu testemunho. Espero que este nosso desejo não cai em saco roto.
ResponderEliminar