Tão ou mais importante do que uma boa governança, é uma boa e franca oposição. Não por se tratar de um contra-poder, mas por acrescentar um elemento de consciência crítica ao processo. Não por desvirtuar o projecto mais sufragado, mas por acrescentar valor, naquilo que são os traços fundamentais das opções maioritárias. Em política, escolher é a palavra-chave, executar é a trave-mestra e avaliar a todo o momento é a garantia quanto à correcção do tiro. Raramente a conjugação dos astros faz reunir, simultaneamente, debaixo do arco da democracia, um governo e uma oposição assépticos, e estas três elementares premissas. C’est la vie…
Para mim, que sou um sexagenário semi-robusto, com um modesto pé-de-meia coçado no calcanhar, sem descendência ou encargos pós-nupciais, aprovar o orçamento e as grandes opções do plano é uma tarefa assaz simples. Entre o comer e o vestir escolho o Dão, entre a farmácia e a tinturaria escolho o Douro, entre o sofá e a cama escolho o fumeiro, entre os vícios escolho os livros, e o que sobrar vai para a Lurdes Rata me passar o corredor a pano e para atestar o depósito do Ford Capri. Recordo a este propósito dos orçamentos (e das escolhas!), um assertivo e proverbial bitaite que li em tempos no Largo das Calhandreiras, onde o Sr. Vinagrete (suponho eu) expunha, traços largos e por comparação, aquilo que se passava num orçamento familiar com aquilo que era suposto passar-se nos orçamentos da coisa pública. No fundo, tudo se resumia a opções, tendo em conta um denominador comum, o bem estar de todos, procurando antecipar e garantir o futuro, e tudo isto enformado numa determinada perspectiva de vida e de valores - aquilo a que os mais afoitos vulgarmente designam por esse nome feio de: “estratégia”. Estão a ver o alcance da coisa, não estão?!
Mas se este meu “incómodo” em relação à discussão e votação de instrumentos políticos essenciais, tem fundamento no alheamento habitual dos cidadãos em geral, mais apreensivo fico quando ele é induzido, por exemplo, pelo incumprimento de promessas eleitorais (onde está o famoso orçamento participativo?), ou pela falta de rigor com que se discutem estas coisas. Atente-se na
declaração de voto de um vereador da oposição, para justificar o seu aval aos documentos em questão.
Não, não foi “A las Cinco de la Tarde”, como Garcia Lorca, mas meia-hora depois. Eram cinco e meia da tarde quando o Dr. Santos entrou no gabinete do Senhor Presidente, para apresentar quatro propostas para o orçamento de 2011, sendo a correspondente aceitação condicionadora do seu sentido de voto. As propostas terão sido aceites e a notícia foi recebida com “algum gáudio”. Compreende-se…
Não vou para já discutir a bondade, o mérito ou a oportunidade das medidas apresentadas, se bem que a do ecoponto gigante, aparentemente risível, parece encerrar uma mensagem subliminar ou coisa que o valha - parece-me haver ali uma metáforazinha reciclatória que não é de todo inocente.
Porém, aquilo que mais confusão me faz é a medida um-ou-outro-ou-as-duas-de-preferência. Piscina ou mercado, mercado ou piscina, pim-pam-pum cada bola mata um e as duas é que era o bonito.
Confesso-me aturdido com este tipo de raciocínio e, sobretudo, por ele ser aparentemente aceite de forma… ligeira. Ou um, ou outro. Ou os dois. Mas será que no quadro de um conjunto de opções que têm de ser tomadas, tendo em vista um determinado modelo de desenvolvimento, e face à escassez de recursos, optar pela construção de uma piscina ou de um mercado é a mesmíssima coisa? Ou será que basta que uma delas se cumpra para que o Sr. Vereador se encha de gáudio, ao ponto de sentir a tranquilidade do dever cumprido?
Sinceramente, siceramente, se calhar sou eu que estou a complicar e que penso demais nesta minudências. Olha, agora é que foi, cravou-se-me uma dor de cabeça que até estou agoniado. Alguém me arranja uma Aspirina ou um Guronsan? Ou os dois? - Já ficava aliviado...