Da entrevista ao ainda primeiro-ministro Pinto de Sousa, retive uma frase que resume a algaraviada que durante longos minutos foi debitando com ar de bichano abandonado e tom compungido, frase essa dita já no declinar da mise en scène melo-dramática, quando a sensual Ana Lourenço lhe anunciou o acordo com a ANTRAM. Pinto de Sousa abriu prontamente o catálogo das poses, guardou cuidadosamente o ar grave nº 1 e retirou o sorriso nº 3, o qual aplicou com destreza sobre o rosto ainda hirsuto. Subitamente o estúdio ficou iluminando e da boca de Pinto de Sousa saiu o soundbyte que escapou à totalidade dos oráculos e dos aprendizes de hermenêutica: “… Portugal precisa dos Camionistas!”. Estava dito o essencial.
…
Na véspera, após a esclarecedora comunicação ao país de Pinto de Sousa e o concomitante colapso da minha vesícula biliar, tinha prometido à minha dignidade que no dia seguinte não iria assistir à entrevista conduzida pela bela, inteligente, charmosa, educada e sempre bem preparada Ana Lourenço, um luxo que claramente Pinto de Sousa não merecia – quer pelo calibre da interlocutora, quer pela preciosidade do meu tempo.
Porque tenho sempre uma réstia de esperança e uma fé residual (inocentemente pueril) de que o Pai Natal é chinês e também compra divida soberana, cedi à tentação na esperança de ver Pinto de Sousa assumir responsabilidades, encontrando nos erros cometidos o caminho da mudança e a configuração de um futuro mais digno. Em vão… Pinto de Sousa continua a vender sabões e gazuas a preço de saldo, a apontar armas a quem dele discorda perguntando de forma hipócrita e desafiadora pelas alternativas aos seus épicos esforço e estratégia, mantendo contudo uma energia telúrica que lhe permite ainda continuar a arregimentar apoios inauditos, que o meu estádio de desenvolvimento cognitivo não permite de todo entender - "Querem o garrote do FMI, a bancarrota, ou aceitam que Sócrates pode salvar o país?"
Confesso por isso que tenho um sério problema, já não acredito em nada que Pinto de Sousa diz, pois os factos são a negação de tudo o que proclamou. Porque afinal, Pinto de Sousa, que à semelhança de Cavaco nunca se engana e raramente tem dúvidas, descarrega nos agiotas e na falta de regulação dos mercados do peixe e da fruta, os males da Grande Europa, não percebendo que enquanto os outros retomam o crescimento económico nós continuamos parados à borda da estrada, de forma despreocupada, a assobiar para o lado e a mijar contra o vento, na esperança de que alguém passe e nos dê boleia. Pinto de Sousa não consegue entender que a coisa é estrutural e que, para além de uma grave crise económica, o país enfrenta uma grave crise de valores e de credibilidade. E nem mesmo quando confrontado com os cenários divergentes do Banco de Portugal, do Banco Central Europeu ou da Comissão Europeia, Pinto de Sousa desarma – fixa os olhos chispados em Ana Lourenço, sem sequer perceber a sensualidade desarmante da jornalista, assume a predestinação dos seus dias e tomando sobre os ombros o pesado fardo, defende de forma apologética e estupidamente convicta a sua “Teoria Socrocêntrica”, declamando em voz grave a frase soprada pelos deuses e pelos assessores - "Eppur si muove!". Só que Pinto de Sousa não é Galileu Galilei, e Passos Coelho muito menos. Estamos por isso... quilhados!
....e sem dinheiro.
ResponderEliminarEste comentário foi removido por um gestor do blogue.
ResponderEliminarO Sr José Marciano aterrou aqui por engano. O blog da pulhice e mal dicência é um pouco mais ao lado. Vá lá, não se engane mais vezes.
ResponderEliminarPedi à Lurdes Rata para varrer o lixo que um tal de Marciano aqui tinha deixado. Sempre há gente muito pouco dada ao asseio.
ResponderEliminarEntão esta espécie de blogue agora também tem censura? Está de volta o lápis azul? Quem diria......
ResponderEliminarTemos que distinguir a diferença entre lápis azul e creolina.
ResponderEliminarO lápis azul atacava a liberdade de expressão, a livre circulação de ideias e o direito à discordância, mesmo que assentes em princípios de elevado rigor ético, respeito e educação.
A creolina usa-se para desinfectar. É eficaz a limpar a matéria fecal que alguns teimam em ir deixando pelo caminho. É higiénico e tem um cheiro activo. Só isso.
Aplaudo, muito sinceramente, o texto do Relaxoterapeuta e o comentário do Vinagrete.
ResponderEliminarEstamos realmente quilhados, lixados e outras coisa em 'idos'.
Como é que vamos sair deste atoleiro é que não sei, já que o concorrente ao lugar, penteadinho e bem falante, não me alegre, nem convence, por nada deste mundo!
Valha-nos um S. Marquês de Pombal ou mesmo um D. João II...
Só discordo da criolina, devia mesmo, era ser mata-ratos...
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