Ao contrário do que seria de
esperar, e não deixa de ser paradigmático dos tempos que vivemos, as últimas sondagens
demonstram à saciedade que a oposição, sobretudo a do “arco do
poder”, continua sem capitalizar a seu favor o descontentamento colectivo pelo
estado calamitoso a que o nosso país chegou.
As respostas a este paradigma são
diversas e encontram fortes razões em fenómenos sociológicos e políticos de
natureza vária.
A uma cultura cívica de reduzida
exigência em relação aos políticos e às instituições, de insipiente contestação
popular, de reduzida expressão e participação eleitoral e política da
esmagadora maioria da sociedade civil, poderemos juntar realidades tão simples e
evidentes como a falta de entendimentos à esquerda, a cumplicidade de todos
(embora em graus diferenciados) no estado da nação, a falta de classe das lideranças
políticas, a teia de
cumplicidades entre o estado e a economia pseudo-liberal, e por aí adiante.
Há contudo para mim uma causa que
se sobrepõe a todas as outras e mede-se em quilogramas, ou fracção desta objectiva
unidade de medida. Refiro-me obviamente ao tamanho (peso) dos tomates.
É claro que a decisão de
apresentação de uma moção de censura, que o emérito Seguro fez ontem aprovar em
conclave extraordinário, se destina mais à ovação interna do que ao legítimo e
urgente exercício de uma alternativa de esperança. É fácil trocar palmadinhas nos
Costas por gestos inconsequentes e redundantes, face há realidade nua e crua de
um hemiciclo que maioritariamente defende um governo incompetente, que vê no
Estado um papel meramente assistencialista e de pseudo-regulação. Porque se o
emérito realmente tivesse vontade (e capacidade) para mudar o estado das
coisas, exporia toda artilharia em cima da banca e indicaria de forma
clarividente o que faria de modo diferente, para além das intenções genéricas
de “negociação com a troika” e de “adopção de medidas para o crescimento” que
vai apregoando com olhar vago e mortíço. Mas quais e como? Qual a estratégia?
Aliás, a tibieza é tal que à complexidade da pergunta - “E promoveria a descida
dos impostos?” - Seguro responde com clareza sintomática - “Não me comprometo”.
E no fim de tudo isto
perguntar-me-ão: mas Seguro é papável? Obviamente que sim, em função da posição
anedoticamente incontestada que ocupa no seu partido e da benção que os
Espírito Santo e toda a nação de anjos e arcanjos calmamente instalados na
banca celestial lhe parecem reservar, face às investidas brincalhonas dos Costas.
Mas claramente que não, em função da falta de qualidades políticas que
demonstra e da exígua falta de peso da fruta. As sondagens demonstram-no de
forma evidente. Seguro não é papável porque este tipo de produtos são facilmente
perecíveis e por isso mesmo de curtíssimo prazo de validade.
Mas duma coisa estou certo,
embora a validação dessa convicção esbarre na impossibilidade de o provar. Se a
moção de censura tivesse consequências traduzidas na queda do governo, Seguro jamais
a apresentaria. É por isso que eu estou farto de líderes com tomates cherry.
Meu caro.
ResponderEliminarSubscrevo mais uma vez e se não se importar vou replicar.
Abraço
Rodrigo
Caro Rodrigo,
ResponderEliminaruma vez mais agradeço a sua visita e a replicação. É bom saber que, concordando-se ou não com o que penso, ainda há quem vá passando e leia o que escrevo.
Fico grato por isso.