22/07/11

Photoshop



Desvio (o olhar do livro que devoro há dois dias e percorro a esplanada até que me fixo nela. Foi o sorriso nos lábios carnudos e os olhos verde azeitona que me fizeram por momentos esquecer os trinta e sete graus da canícula e a sobretaxa especial. Perco-me no decote atrevido, nas mãos delicadas e nos dedos finos que entrelaça nos caracóis dourados que lhe emolduram o rosto de ninfa, ignorando as pessoas que à minha volta conversam, riem e bebem, à sombra de chapéus de sol de uma conhecida marca de café. Não sopra nem uma brisa, o que faz aumentar a temperatura. O gin tónico esquecido à minha frente, dissolve o que resta dos três cubos de gelo que pedi ao empregado, ignorando o meu transe lascivo.
Ela levanta-se para cumprimentar uma amiga que acaba de chegar, compondo a mini-saia. As pernas são longas, estupidamente perfeita e o rabo) colossal...



20/07/11

Laboratório de Ideias



Não é que tenha algum empatado na peleja, que se prevê tão escaldante como um serão de domingo na Travessa do Possolo, mas, bem vistas as coisas, este poderá ser o primeiro passo para entronizar o brilhante e reluzente crânio do próximo primeiro ministro de Portugal. Eu cá já acredito em tudo.


Dupond & Dupont vão a meças. Discutiram publicamente a forma, mas não o conteúdo, porque, ao que parece, não há muito conteúdo para discutir. Pelo menos em público, o que se estranha, dada a insistência com que se referem à abertura do partido à sociedade civil. Seja lá o que isso for.
O tempo das discussões ideológicas no partido dos Dupondt parece ter esmorecido, após o efeito eucalipto da vigência de Pinto de Sousa, que, como é público, secou tudo à sua volta, e a derrota eleitoral, que deixa adivinhar uma travessia sem grande glória, por tacticismo de alguns e por voluntarismo de outros. É pena, pois o país precisava de contributos válidos, para além dos do “Prós e Contras”, do Prof. Medina Carreira e da Alexandra Solnado, e o sistema político de regeneração.
À punição infligida, pelos que ainda se atreveram a votar, nas últimas eleições, os Dupondt responderam que é tempo de pensar o futuro e não de lamuriar o passado, erro básico de quem não entendeu nada do que se passou. Ao desafio do patriarca Soares para que o partido se refundasse, os Dupondt responderam com truques, magia, arrufos e um magnífico laboratório de ideias para tentar descobrir o que pensar sobre futuro. O experimentalismo das ideias deverá contudo ficar adiado devido à falta de pessoal especializado e de reagentes. Duvido também que a sociedade civil queira entrar para contribuir. É que já só tem meio peru e a outra metade cheira-me que já deve estar encomendada. Ou muito me engano ou o  Africano de Massamá já tem ideia do destinou a dar-lhe. Estou até desconfiado que ele e a Sra. Dona Cristas também têm um laboratório de ideias. Colossais!


15/07/11

Sinais de Fumo




Diz o resplandecente Sol, que os ministro têm medo de falar ao telemóvel. Também eu. Ao preço a que me cobram as chamadas, só dá mesmo para o indispensável e para as emergências. Se alguém escutar, paciência, pode ser que fiquem com as orelhas a arder.
E já agora que ninguém nos ouve: se nem os próprios ministros do Estado confiam no estado das suas redes de comunicações e bufam isso aos quatro ventos, como é que eu hei-de confiar no Estado?
Vou mas é consultar o estado do tempo no Burkina Faso. Pode ser que faça sol. Do bom. E eu me mude de vez. Estou farto de chuva.
Passar bem.



14/07/11

"Desvio colossal"



Afinal a inquietante e desconcertante frase do jovem Passos, uma reflexão inócua para os mercados dos activos tóxicos, mas com potência suficiente para prevenir do que há-de vir e para desflorar virgens ainda encantadas, referia-se isso sim a um problema de coluna vertebral, ou como diz o povo, a um problema de “espinha". Torta.
A famosa “contribuição especial” por si anunciada, como única e irrepetível, incidindo sobre todos os rendimentos, ao que parece vai incidir apenas sobre os rendimentos do trabalho. Só.
Começam-se por isso a agravar os sinais de escoleose lombar, disfarçados com pó de arroz e sombras durante a fase de galopinagem, mas que agora cedem facilmente ao peso da dívida que se quer atirar para cima dos burros de carga.
O Sr. Silva, homem escorreito e avisado, bem que o havia prevenido – “cautela Pedro, olha que tu não podes fazer esforços! Olha a tua coluna, rapaz!”. Mas como nem a avó morre nem a gente almoça, lá ficou a porra da fotografia desfocada outra vez: o senhor prior vai ter de dar o dito por não dito, o jovem Pedro já marcou cinco sessões de fisioterapia nas Ilhas Caimão e o pai da criança, o Sr. Silva, recém-indignado com o que as agências de rating lhe estão a fazer ao moço, vai ter que nascer duas vezes para parecer que é mais sério do que o seu irmão gémeo de Boliqueime, o tal que defendia as ditas agências no tempo em que o malogrado Pinto de Sousa, de má memória, sentia as canelas mordidas.
Com isto tudo e os actos, já me quilhei outra vez - "levem lá a merda dos anéis, que os dedos fazem-me falta para esfregar as nalgas. Vá lá, com jeitinho que isso dói!"





05/07/11

Estado: de graça?

Em resultado do meu feitio pouco ortodoxo, utilizando um disfemismo diria que, vejo-me sempre grego para respeitar um dos mais famosos cânones mofosos que a sonsice democrática apregoa no recobro pós-eleitoral, o afamado “estado de graça”. A ideia é a de olharmos para os líderes recém-eleitos com a mesma benevolência e o mesmo enlevo com que se olha para uma criança que dá os primeiros passos, ou que descobre os encantos de um novo brinquedo. Não consigo, é superior a mim, mesmo tendo em conta a actual situação. Não consigo desperdiçar o benefício da dúvida, que concedo por princípio a quem defende de forma inteligente e coerente ideias que não perfilho, quando vejo que se começa pelo mesmo lado de sempre – o da receita: 200 gramas de poeira para os olhos, uns raminhos de salsa nos ouvidos, dois ovos pelo cú acima, uma colher de óleo de fígado de bacalhau para acalmar a tosse, e passa para cá o-equivalente-a-metade-do-subsídio-de-Natal-acima-do-salário-mínimo-nacional, tudo na módica quantia de 800M de €uritos, que o Estado está para ter um fanico pós-socrático, que o Estado está que nem pode. Mais nada!
Atente-se porém no preciosismo da ilusão: o-equivalente-a-metade-do-subsídio-de-Natal-acima-do-salário-mínimo-nacional. “Ouve lá pá, mas para que queres tu receber dois ordenados num só mês, meu cabrão? Queres continuar a viver acima das tuas possibilidades, é isso? Queres continuar a comer bem, a vestir-te de marca, a besuntar-te com perfumes caros, a comprar electrodomésticos, telemóveis, carros em segunda-mão importados da Alemanha, a viajar para a República Dominicana, para Varadero, para descansares com os tomates de molho em praias tropicais, enquanto o Estado se afadiga a pagar-te a saúde, a educação, os transportes, a televisão, não é? Julgas que o Estado é de graça, é? Pois estás muito enganado, tótó! À conta das tuas loucuras, de viveres acima do que podes (que o gajo do banco bem te avisou quando te concedeu o décimo empréstimo!…), é que isto está como está! E agora? E agora, diz-me?!
Agora o Estado tem gorduras, está obeso, bojudo, untuoso, hipertenso, e precisa de ti. Por uma vez precisa do teu esforço, precisa que lhe pagues uma lipoaspiração e um peeling, porque anda a sair com uns gajos da troika que não lhe gostam da silhueta – “se não emagreceres não te saltamos para cima!” – não se cansam de repetir.
E afinal era tudo tão simples. Ou não. Bastava que da mesma forma, com a mesma solicitude e com o mesmo rigor com que o Sr. Eduardo e o jovem Pedro fizeram os cálculos da nova colecta, tivessem eles olhado por segundos para a outra face da moeda e nos tivessem dito: “sócio, sócio, isto agora vai mudar! Vamos acabar com a mordomia x, com o desperdício y, com o desvio z. E sabem quanto é que o Estado vai poupar com isso? Está quantificado: 800M de €uritos. É verdade, 800M de €uritos que não vamos ter de vos sacrificar, porque estamos aqui concentradíssimos a fazer a administração rigorosa e parcimoniosa da coisa pública. Ah pois é!”

Era bonito, não era? Era...


03/07/11

Errata



Afinal enganei-me, a campanha era da TUMG, os arabescos indecifráveis eram a identificação das linhas existentes e das novas, “a Marinha sempre foi Grande” e “agora é ainda maior”. O “adjectivo” referia-se portanto, ao comprimento da cidade...

Fico contudo satisfeito por ver alargada a rede de transportes. As zonas mais periféricas há muito que necessitavam deste serviço. E já agora que estamos no verão, não seria igualmente útil pensar nas zonas balneares e nos habituais problemas de trânsito? Talvez a TUMG pudesse ter algum papel, digo eu.


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Nota de rodapé: apesar da correcção, mantenho o último parágrafo.