22/04/15

E depois do adeus...



Em vésperas de mais um 25 de Abril da liberdade, e após vários anos a escrever na blogosfera, tomei a decisão de parar.
Agradeço a todos os que comigo partilharam este e outros espaços. Em especial ao Rodrigo e ao Armando.
Não há razões nem ressentimentos. Mas haverá certamente saudade - de mim falo.

Durante alguns dias manterei O Conto do Vigário on-line. Depois passará apenas à condição de "mera recordação".

E depois do adeus, espero continuar a caminhar no Pinhal do Rei e a respirar a maresia junto à Praia Velha,  a olhar o mar do Penedo da Saudade, a apanhar caruma e pinhocas para atear o fogo da paixão, a ler livros, a comer míscaros com os amigos, a rumar ao pinhal na Quinta-Feira da Ascensão, a amar esta maravilhosa terra que me viu nascer.
Não sei mas, talvez até peça a Lurdes Rata em casamento. Nunca se sabe o dia de amanhã...


Relaxoterapeuta
    (pseudónimo)




20/03/15

In-Feliz



- Oiça lá, sabe que dia é hoje?
Levantei os olhos do jornal e respondi sem grande convicção:
- Vinte de Março?
- Irra!..
- Começa a Primavera?
- C’uma porra! Não sabe que dia é hoje?
- O dia do eclipse solar?
- Foscasse! E mais tem a mania que sabe tudo…
- Ó Lurdes, acaba lá mas é a limpeza e deixa de me incomodar!
- É o dia mundial da felicidade, homem. Trouxe-lhe aqui uma vinhaça que sei que gosta dessas coisas. É um miminho - não é que você mereça…
Lurdes Rata estendeu-me uma garrafa de litro de vinho Adegueiro. Larguei uma gargalha trocista enquanto inspeccionava o rótulo e perguntei-lhe:
- Esta zurrapa é para temperar o guisado?
Lurdes não conteve as lágrimas e mandou-me à merda.
Irritada como nunca a tinha visto, largou balde e esfregona onde estavam, tirou o avental com gestos bruscos e largos, atirando-o para cima da mesa da cozinha, e abalou porta fora batendo-a com estrondo. No patim o Piruças ganiu de dor e o portão gemeu batendo igualmente com estrondo.
Caí em mim.
Lurdes Rata, a minha mulher a dias, uma mulher simples e humilde cuja vida não tem sido um mar de rosas, apenas procurou felicidade num simples gesto que todos os dias olvidamos – fazermos os outros felizes.
A Lurdes tem razão, não mereço o vinho que me deu.
Mas se calhar o vinho também não me merece a mim. Que se quilhe. Quando a vir peço-lhe desculpa. Ou será que lhe devia ligar já?



18/03/15

Reflexionar


Acho o populismo execrável, tenho aversão a leituras simplistas da realidade e abomino generalizações. Acho-as perigosas e injustas. O mundo não é preto ou branco. Tem matizes, nuances, cambiantes.
Sem qualquer presunção, nem água benta, acho que tenho uma consciência social e um sentido cívico apurados, o que muito devo à boa gente que ao longo da vida me foi despertando para os valores da simbólica divisa da revolução francesa – liberdade, igualdade, fraternidade.

Tenho feito a apologia da leitura das actas relativas às reuniões de câmara. Porque considero que essa leitura, sem quaisquer filtros, permite conhecermos as opções que são tomadas e a sua forma, porque permite percebermos, de uma forma geral, a linha de conduta política de todos os membros do executivo camarário – as prioridades, a coerência, a competência, a capacidade de influência e de liderança, etc.

Por tudo o que referi, o convite que hoje faço, partindo de duas situações reais retiradas da acta nº 4, é um convite à reflexão sobre o real papel do Estado (neste caso através das autarquias), sobre a forma de funcionamento do próprio Estado, sobre o papel dos políticos e as suas motivações na administração da coisa pública, sobre a escassez dos recursos e sobre o desperdício, sobre a conflitualidade da gestão desses recursos escassos, sobre as prioridades, sobre política. Porque política é isso mesmo, decidir.

Embora um pouco extenso, e correndo o risco de tornar o post chato, fastidioso, arrisco e deixo à vossa consideração um excerto da acta nº 4, a última acta disponível das reuniões do executivo camarário.
Para já não vou tecer mais comentários, embora tenha tirado algumas conclusões, as minhas conclusões, algumas delas obviamente suportadas por simples contas de dividir…



Nos termos do previsto nos n.ºs 1 e 2 do artigo 49.º do Regime Jurídico das Autarquias Locais, aprovado pela Lei n.º 75/2013, de 12 de setembro, foi concedido um período para intervenção e esclarecimento ao público.

Foi atendida a seguinte munícipe:

1 – Sr.ª D. Florbela da Silva Fidalgo, residente na Praceta Luís de Camões, Lote P, 5.º Dt.º, Casal do Malta, Marinha Grande, que veio solicitar a atribuição de habitação social, uma vez que está com problemas económicos e de saúde.
Já há muito tempo que se inscreveu para a atribuição de habitação social, pretendendo saber se há, uma vez que leu no jornal uma notícia sobre o assunto.

O Sr. Vereador Vítor Pereira, titular do pelouro da habitação social, cumprimentou a munícipe e todos os presentes, e informou que percebe a situação da D. Florbela, que o executivo está atento a esta situação e a tantas outras que infelizmente se verificam na Marinha Grande, de pessoas com imensas dificuldades, mas neste momento não há casas disponíveis para atribuir. Existem algumas que estão na posse da Câmara, que foram entregues pelos arrendatários completamente destruídas e inabitáveis, e que se vão tentar recuperar, para que depois possam ser levadas a concurso público, tendo já ordenado aos serviços para que nessa altura sejam avisadas todas as pessoas que se encontram inscritas.
Neste momento a Câmara não está em condições de satisfazer as necessidades de procura.
Disse ainda que pretendia deixar claro, sem querer afastar a responsabilidade da Câmara, que em termos do poder central pouco ou nada tem sido feito na área social, querendo é desfazer-se de toda a habitação social que ainda tem, transferindo-a para as Câmaras Municipais, e não querendo assumir essas responsabilidades.
Percebe que isto não interessa à munícipe, contudo fica registada a sua necessidade e na primeira oportunidade será dada uma resposta.

O Sr. Vereador António Santos cumprimentou todos os presentes e disse que sabe o que é viver numa situação de transplante, como foi referido pela munícipe, que deve viver com condições e a quem deve ser dada uma resposta célere em termos de habitação. Na sua opinião as Câmaras Municipais devem aproximar as populações, por isso estas se dirigem à instituição e esta deve solucionar os casos o mais rápido possível.
A Sr.ª Vereadora Maria João Gomes disse que conhece a situação exposta, que é muito carente, tendo apelado a que assim que haja condições se arranje um sítio para a Sr.ª morar, porque precisa muito.

O Sr. Presidente esclareceu que a atribuição de casas é sempre feita por concurso público e neste momento a Câmara tem que arranjar algumas para esse concurso. Não concorda com o Sr. Vereador António Santos e partilha totalmente da opinião do Sr. Vereador Vítor Pereira, pois o poder central tem responsabilidade nesta área, e a pouca que ainda tem na Marinha Grande quer passá-la para a Câmara, que não irá aceitar. A D. Florbela terá todo o apoio da Câmara, mas neste momento é preciso disponibilizar algumas casas e levá-las a concurso. Referiu ainda que as pessoas deverão ter conhecimento da situação em que as casas são entregues, praticamente destruídas, o que implica dezenas de euros de investimento por parte da Câmara. Atualmente os contratos de arrendamento já salvaguardam estas situações.

(…)

O Sr. Vereador Aurélio Ferreira cumprimentou todos os presentes e abordou os seguintes assuntos:
     - Sobre a intervenção do público, considera que o assunto apresentado pela D. Florbela é demasiado sensível, mas pensa que a Câmara irá resolvê-lo.

(…)

29 - PARECER PRÉVIO VINCULATIVO PARA A CONTRATAÇÃO DA “PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS DE SOM E LUMINOTECNIA PARA ESPECTÁCULOS E EVENTOS A REALIZAR NA CASA DA CULTURA – TEATRO STEPHENS”, PARA O PERÍODO DE 1 DE MARÇO DE 2015 A 31 DE MARÇO DE 2017 (…)

(…)

Presente a requisição interna n.º 16016/2015 e informação n.º 1A/2015, ambas da Divisão de Cidadania e Desenvolvimento, onde se manifesta a necessidade de contratação da “Prestação de serviços de som e luminotecnia para espectáculos e eventos a realizar na Casa da Cultura – Teatro Stephens”, para o período de 1 de março de 2015 a 31 de março de 2017, cujo contrato a celebrar carece de parecer prévio vinculativo nos termos do disposto no n.º 12 do art.º 75.º da Lei n.º 82-B/2014, de 31 de dezembro, Lei do Orçamento de Estado para o ano de 2015 e cuja globalidade das tarefas a executar serão exercidas com autonomia, sem caráter de subordinação e imposição de horário de trabalho, revelando-se inconveniente o recurso a qualquer modalidade da relação jurídica de emprego público.

(…)

Considerando que o contrato a celebrar carece de parecer prévio vinculativo nos termos do disposto no n.º 5 do art.º 75.º da Lei n.º 82-B/2014, de 31 de dezembro, Lei do Orçamento de Estado para o ano de 2015 e que o procedimento a adotar é o Ajuste Direto previsto no artigo 20.º, n.º 1, alínea a) do Código dos Contratos Públicos, atendendo a que se prevê um valor do contrato inferior a 75.000,00 €.

Considerando que o serviço requisitante propõe o convite António José Reis Pereira, NIF 197 082 599, e que esta possui a sua situação regularizada no que respeita às suas obrigações fiscais e para com a segurança social, conforme documentação em anexo.

Considerando que se entende, na presente data, que os serviços a contratar propostos pela DCD podem consubstanciam um contrato de tarefa ou avença, sendo que se aguarda orientação clarificadora requerida à CCDRC sobre esta matéria.

Considerando que se encontra inscrito em Plano de Atividades Municipais de 2015 a dotação para a assunção de despesa nos anos de 2015, 2016 e 2017 para a contratação da “Prestação de serviços de som e luminotecnia para espectáculos e eventos a realizar na Casa da Cultura – Teatro Stephens”, para o período de 1 de março de 2015 a 31 de março de 2017, tendo sido emitido o cabimento n.º 400/2015, pela área de contabilidade.

Considerando que o preço base a aplicar é de 36.800 euros, acrescidos de I.V.A. à taxa legal em vigor, sendo este o preço máximo que a entidade adjudicante se dispõe a pagar pela execução de todas as prestações de serviços objeto do contrato a celebrar e que este está sujeito a redução remuneratória, preceituada no n.º 1 do art.º 75º da Lei n.º 82-B/2014, de 31 de dezembro, Lei do Orçamento de Estado para o ano de 2015, por existir contrato com idêntica contraparte vigente em 2014, conforme documentação em anexo.

(…)

Face ao exposto e considerando que se encontra cumprido o requisito preceituado na alínea c) do n.º1 do artigo 6º da Lei n.º8/2012 de 21 de Fevereiro e o preceituado nos n.º 5 e n.º 6 do artigo 75º da Lei n.º 82-B/2014 de 31 de dezembro, Lei do Orçamento de Estado de 2015, a Câmara Municipal delibera, de acordo com o n.º 12 do artigo 75.º da Lei n.º 82-B/2014 de 31 de dezembro, emitir parecer favorável à contratação da “Prestação de serviços de som e luminotecnia para espectáculos e eventos a realizar na Casa da Cultura – Teatro Stephens”, para o período de 1 de março de 2015 a 31 de março de 2017.

Esta deliberação foi tomada por maioria, com 6 votos a favor e 1 voto contra da Sr.ª Vereadora Maria João Gomes, que proferiu a seguinte declaração de voto:
“Votei contra porque a contratação desta prestação de serviços deveria ter dado lugar a concurso público, por se tratar de um valor de 36.800 euros.”


06/03/15

Ângulo Morto




  
Que Pedro Manuel Mamede era desleixado, já todos o sabíamos. Que Pedro Manuel Mamede era finório, não havia dúvidas. Que Pedro Manuel Mamede usava argumentário cínico, também não é novidade.
Contudo, o que os episódios dos últimos dias vieram revelar, ocultado pelo ângulo morto, o ponto G da fronteira entre a decência e a indecência, foi um Pedro Manuel Mamede místico, beatífico, alegórico. A novidade é que houve uma evolução de patamar, a coisa passou do plano do profano para o plano do sagrado. Pedro Manuel Mamede, para justificar ser um homem pobro mas semi-impoluto (como o comum dos mortais), e com uma família à prova de bombinhas de mau-cheiro e de cegadas de campanha negra, mandou às malvas a reserva da vida privada e a laicidade do Estado, citando os Evangelhos in causa sua - “quem nunca pecou que atire a primeira pedra” – que é como quem diz – “mas quem são estes mamíferos para me estarem a acusar? Se eu fosse o Clark Kente tinha feito carreira no Politeama! E, para além disso, eu não sou obrigado a saber latim!...”
Mas, calma lá! Então não foi este sicrano que ao longo destes quatro anos nos acusou de não querermos pagar contribuições e impostos? Não foi este sujeito que fez do aumento da carga contributiva e fiscal a pedra angular das políticas de recuperação da nossa credibilidade junto dos mercados? Não foi este fulano que acusou os pensionistas de viverem tempo de mais, os doentes de serem hipocondríacos, os jovens de procurarem emprego e a carneirada em geral de viver acima das suas possibilidades?
Pedro Manuel Mamede comporta-se como o senhor prior que exalta as virtudes da castidade, enquanto se esfrega nas mamas da mulher do sacristão e agita vigorosamente a irmã da canhota, não se coibindo de enviar farpas ao preso 44 nos seus sermões aos fiéis da S. Caetano.
E depois há o rebanho dos crentes. Aqueles que acreditam. Piamente. Que os há em todo o lado. Ah pois há! Mas com uma diferença. Enquanto que os crentes na inocência do preso 44 não conhecem a verdade, a culpa vertida no transito em julgado, os crentes de Pedro Manuel Mamede sabem que ele não cumpriu as suas obrigações de forma reiterada, "imprudente", embora inocente (segundo o próprio), e nem mesmo isso os impede de enaltecerem as suas virtudes e até (pasme-se!), cantarem salmos de júbilo ao orgulho de fazerem parte do seu governo. Que o digam a tia da Cruz, da Justiça, e o tio de Lima, da Economia.
Só é pena que a tia da Justiça, que se incomodou a explicar aos incréus o que é uma “divida natural”, não tivesse perdido dois minutos para explicar ao seu virtuoso amo a expressão jurídica “Ignorantia legis non excusat”.
E é por estas e por outras que eu também sou incréu, versado em latim e que acho que Pedro Manuel Mamede não reúne os predicados para ocupar o lugar que ocupa. Pelo menos não tem moral para isso.


27/02/15

Gaivotas em terra, tempestade... onde?




Esta e outras imagens no blog "Pensamentos de uma Gaja"


Se a minha avó Trindade fosse viva, diria que é coisa do demo e que são sinais do “fim do mundo”, ela que vaticinava - e que sempre esganiçou, alto e bom som, a famosa premonição: “A dois mil chegarás, de dois mil não passarás!”.
Infelizmente a velha finou-se (sem deixar pecúlio ao neto…) mais de duas décadas antes do suposto armagedão, não podendo por isso confirmar ao vivo e a cores que, tirando os bugs nos computadores e a solipampa da sogra da Lurdes Rata em pleno réveillon na sede das Figueiras, nada mais se passou nesse noite que merecesse algum destaque.

Quis por isso o destino, e o “Poderoso”, que a supersticiosa avó Trindade também não assistisse à actual invasão da cidade por hordas de gaivotas de pata amarela, e pelas suas convidadas, as primas nórdicas de asa escura, que procuram no remanso destas paragens, fugir  aos rigores do inverno do norte da Europa. Como se de repente o iluminado alcaide deste município virado a atlântico, a “conselho” da DDT e do sacripanta, eminente especialista em excursões, num golpe de asa e de astúcia política, tivesse aberto os campos da bola à aviação civil das bichas, para fazer pirraça, ao ausente engenheiro logarítmico e à sua pretensão de abrir Monte Real à Easyjet, e ao plano de desenvolvimento turístico apresentado pela camarista com o respectivo pelouro, em nome do centro de trabalho da Marquês de Pombal.

A verdade verdadinha é que o fenómeno transformou-se num problema de saúde publica (!) com consequências na própria economia local. Que o digam as garrafeiras próximas da Feira dos Porcos, que já contabilizam prejuízos e muitas dores de cabeça, para além de investimentos em tecnologia para espantar as inconvenientes palmípedes. É que se ao menos fossem cabras, não pousavam nos telhados das garrafeiras e sempre davam um desbaste na relva dos campos da bola, com as consequentes poupanças na subcontratação desse serviço pelo município. Pelo contrário, as malditas aves badalhocas, para além de defecarem ao mesmo ritmo que o “nosso” (vosso!) ministro dos assuntos alemães Mamede Passos Coelho debita graçolas sobre a Grécia, ainda transportam, para cá, lixo da Valorlis e pedaços de carcaças de galináceos do aviário contiguo.

Não sei se o assunto já foi a reunião do executivo, ou se o engenheiro Monteiro Ferreira já estudou o dossier. Registo contudo que asautoridades estão apreensivas, atentas à situação e que já fizeram “algumasdiligências e reuniões”. A avaliar por outros assuntos “entre-mãos”, fico descansado. Ou melhor, escuso de ficar descansado. Será que não temem pela saúde de dezenas de crianças e jovens que todos os dias frequentam as instalações do Estádio Municipal?

Mas para não dizerem que apenas aponto problemas e não arrisco soluções, cá vai uma sugestão. Já que uma das formas de combater a praga é o recurso à falcoaria, o conspícuo deputado Feteira Pedrosa que traga a águia do glorioso, e a ponha a dar caça às indesejadas pássaras. Sempre era uma forma de fazer qualquer coisa útil pelos eleitores do seu circulo. Mais não fosse, porque enquanto estava entretido no Casal do Malta a atiçar a Vitória às gaivotas, não estava no facebook a rembibar o malho contra o Syriza. Já começo a desconfiar que aquilo é mais do que amor platónico. Ou será uma chinesice?


19/02/15

OLX




Vendo barato ou troco por outro mais afinado.
Motivo: falta de interesse pelo "instrumento".

(refiro-me, obviamente, ao "aco", não ao "inho")


12/02/15

[Sr. Ministro] "Eu não quero morrer!"


No califado do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, no próximo oriente, a barbárie continua em nome de um deus que, pelos vistos, se mostra incompetente para castigar impiedosamente os infiéis, “recorrendo” a facínoras sem pingo de dignidade ou de humanidade.
O sacrifício de reféns é o prato dia que se serve on-line às nações que os combatem, e os pedidos de resgate para libertar esses reféns são meros artifícios para exponenciar o sacrifício e a mediatização do terror, prolongando no tempo o sofrimento e a pressão sobre as autoridades dos países de origem das vítimas.
Invariavelmente, os Estados a quem são pedidos os resgates em troca de vidas humanas, não aceitam a chantagem, assumindo que uma posição de fraqueza se traduziria na abertura duma caixa de Pandora, num precedente com consequências difíceis de imaginar. Compensar o crime não está no campo das hipóteses, mesmo quando do outro lado se sabe que alguém vai perder a vida. Para os Estados são os chamados danos colaterais, inevitáveis, preferíveis a uma subjugação, num algoritmo que pondera o interesse e a segurança colectivos e individuais.
Uns milhares de quilómetros mais a ocidente, um laboratório farmacêutico, cujo nome não refiro por nojo, em nome de outro deus, que chafurda no lucro à custa da miséria e do sofrimento humanos, exige aos Estados quantias obscenas para salvar vítimas da hepatite. O meio é o mesmo, o resgaste pedido tem como contrapartida vidas humanas, tem na base o terror e o sofrimento.
E como se comportam neste caso os Estados? O nosso Estado? “Elementar meu caro Watson”! O Estado reage com a mesma firmeza e a mesma determinação com que se combatem os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, não cedendo a chantagens, assumindo a perda de vidas humanas como danos colaterais. Detenhamo-nos pois no paradoxo: "Os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas, os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para garantir os melhores cuidados de saúde mas é mentira que custe o que custar, no sentido em que tenhamos os recursos ilimitados para suportar qualquer preço de mercado, isso não existe nem em Portugal nem em lado nenhum do mundo" (Pedro Manuel Mamede Passos Coelho - dixit)
Devo esclarecer que para mim, são tão terroristas os hirsutos de barba e turbante, como os de focinho escanhoado e gravata de seda! Ambos representam o que de pior a natureza humana pode suportar. Ponto!!!
Porém, entre o modo de enfrentar esta duas formas de terrorismo, parecendo haver semelhanças, que as há, há também uma diferença fundamental. É que em relação ao resgate das vítimas sequestradas pelo laboratório, com a sua postura de merceeiro imperturbável, o Estado apenas condena à morte os que não têm meios próprios para adquirir o medicamento que garante a cura numa elevadíssima percentagem de casos. Ou seja, neste caso o papel do Estado resume-se ao do avarento zarolho que não suporta pagar medicamentos para resgatar vidas, porque os recursos são limitados, mas que não ousa entraves ao salvamento da corja de banqueiros e quejandos que durante décadas assaltou o país, ou ao pagamento de rendas garantidas nas PPP’s, esquecendo por completo o seu elementar papel de cuidar e zelar pelo acesso de todos, sem excepção, à saúde.
Mas mesmo que possamos dar de barato que a postura do laboratório é inaceitável e o Estado não a deve tolerar, é bom não esquecer que neste caso salvar vidas não é incompatível com o combate a este tipo de terrorismo. Porque este tipo de terrorismo é resultado das consequências óbvias da liberalização de sectores fundamentais, nomeadamente o da saúde. Este terrorismo é alimentado pela privatização desenfreada do sistema de saúde e da investigação e produção científicas, os quais deveriam estar ao serviço de todos. Este é o resultado de tratar a saúde não como um direito, mas como uma mercadoria. Mesmo que agora o ministro nos venha dizer que o governo português conseguiu o melhor acordo que na Europa algum Estado fez com o repugnante laboratório. Porque entre o pedido de resgate e o acordo final, que continua a ser lesivo e obsceno, houve danos colaterais irreparáveis. E isso por si só é uma tragédia. Da responsabilidade do Estado, obviamente.



30/01/15

Amanhãs que Cantam - O Putativo


A figura é forte! É! É!...
É viçoso, tem carisma e é escorreito. Tem carisma! Tem, tem!...
É um líder, um mentor, um visionário. É, é...
O discurso é fluente, claro e incisivo. Há uma ideia definida para antecipar o futuro e um caminho traçado para percorrer. Que chega ao coração mais empedernido. Que penetra mesmo na mente dos que teimam em... procrastinar*. Enconar!
É um filho da terra...
Por mim está escolhido e sugiro-vos que me acompanhem numa vaga de fundo. Está escolhido o futuro alcaide do burgo! E ainda por cima está cheio de guito - upa, upa!
Tendo em conta o panorama, conseguem arriscar melhor sugestão? Duvido.



(Aviso: desaconselhável a pessoas facielmente impressionáveis e a fiscais da AT)



* esta é dedicada ao Ricardo Graça da Perguiça

26/01/15

Micro-deuses






Manifestando evidentes sinais de adiantado estado de elefantíase, o alcaide entrou na reunião semanal do executivo com a delicadeza dum paquiderme no atelier do Poeiras. Cumprimentou os presentes com um espécie de urro, para marcar território, e passou ao ataque, conforme lhe tinham indicado. A ideia do urro fora sua, inspirado na performance de Cristianinho, aquando da sua recente consagração como melhor do mundo. Inicialmente a DDT não tinha achado grande piada, mas acabou por anuir, autorizando o alcaide a fazer a gracinha do bramido.
Já com todos sentados à mesa, o alcaide retirou de forma delicada e provocadora as luvas de pelica e guardou as pinças, que mantinha em cima da mesa de reuniões desde o início do mandato, num estojo de veludo vermelho escarlate. Colocou o seu ar mais grave, sacou do bolso do casaco de tweed um pedaço de papel cuidadosamente guardado das vistas dos mais afoitos e leu o manuscrito ditado pela equipa de produção. Curto e grosso! Informou do secreto arquivamento do “Processo da Resinagem” e exigiu um “pedido de desculpas”. Formal!... Coisa e tal…
Enquanto isso, numa sala contígua, a DDT e o seu novo acólito, o beato Salu, riam a bandeiras despregadas com a encenação preparada. Estava dada a resposta aos que nas vésperas tinham colocado pequenas sementes de ódio-de-estimação nos pasquins periféricos, para gaudio do director encartado, dos detractores do acordo pós-eleitoral e de um ou dois símios omniscientes, omnipresentes e omnimpotentes.
Os presentes, eleitos - uns mais presentes que outros, diga-se - reagiram entre a indiferença e o incómodo – a indiferença ao mensageiro, que articula mal e vocaliza pior, e o incómodo da mensagem, soprada do sótão bafiento da casa assombrada da 25 de Abril.
Confesso que já nada me causa espanto, pelo que a pseudo farsa vicentina é mais um dos muitos episódios com fracos actores e frouxos de argumentos. Ao menos que tivessem tido o cuidado, para a coisa parecer um pouco mais autêntica, de dirimir o desaguisado antes de firmarem o acordo inócuo que lhes permite brincarem aos executivos de maioria vacinada.
Vão mas é gozar com a prima! Do outro.