Manifestando evidentes sinais de
adiantado estado de elefantíase, o alcaide entrou na reunião semanal do
executivo com a delicadeza dum paquiderme no atelier do Poeiras. Cumprimentou
os presentes com um espécie de urro, para marcar território, e passou ao
ataque, conforme lhe tinham indicado. A ideia do urro fora sua, inspirado na
performance de Cristianinho, aquando da sua recente consagração como melhor do
mundo. Inicialmente a DDT não tinha achado grande piada, mas acabou por anuir, autorizando o alcaide a fazer a gracinha do bramido.
Já com todos sentados à mesa, o
alcaide retirou de forma delicada e provocadora as luvas de pelica e guardou as
pinças, que mantinha em cima da mesa de reuniões desde o início do mandato, num
estojo de veludo vermelho escarlate. Colocou o seu ar mais grave, sacou do
bolso do casaco de tweed um pedaço de papel cuidadosamente guardado das vistas
dos mais afoitos e leu o manuscrito ditado pela equipa de produção. Curto e
grosso! Informou do secreto arquivamento do “Processo da Resinagem” e exigiu um
“pedido de desculpas”. Formal!... Coisa e tal…
Enquanto isso, numa sala
contígua, a DDT e o seu novo acólito, o beato Salu, riam a bandeiras
despregadas com a encenação preparada. Estava dada a resposta aos que nas
vésperas tinham colocado pequenas sementes de ódio-de-estimação nos pasquins periféricos,
para gaudio do director encartado, dos detractores do acordo pós-eleitoral e de
um ou dois símios omniscientes, omnipresentes e omnimpotentes.
Os presentes, eleitos - uns mais
presentes que outros, diga-se - reagiram entre a indiferença e o incómodo – a
indiferença ao mensageiro, que articula mal e vocaliza pior, e o incómodo da
mensagem, soprada do sótão bafiento da casa assombrada da 25 de Abril.
Confesso que já nada me causa
espanto, pelo que a pseudo farsa vicentina é mais um dos muitos episódios com fracos
actores e frouxos de argumentos. Ao menos que tivessem tido o cuidado, para a
coisa parecer um pouco mais autêntica, de dirimir o desaguisado antes de firmarem
o acordo inócuo que lhes permite brincarem aos executivos de maioria vacinada.
Vão mas é gozar com a prima! Do outro.
Seja lá quem for o autor, é bom a compor cenários.
ResponderEliminarFartei-me de rir com a primeira parte. Aliás, os seus posts podem ser divididos em dois momentos. O primeiro momento é uma espécie de intróito, bem disposto, espirituoso!
Conseguir fazer rir não é apanágio de qualquer um :D
Milu,
ResponderEliminaragradeço a visita e o comentário, coisas que por aqui vão cada vez mais rareando.
É bom saber que faço rir alguém, mais não seja...
Só mais uma achega, que não quero parecer incisiva:
ResponderEliminar"Mais não seja" que é como quem diz. Porque fazer rir é um talento.
Uma das mais bem conseguidas, das mais emblemáticas obras da Literatura Mundial constitui um constante apelo ao riso. D. Quixote de La Mancha!
Uma obra fenomenal... e faz rir! :D