No
califado do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, no próximo oriente, a
barbárie continua em nome de um deus que, pelos vistos, se mostra incompetente
para castigar impiedosamente os infiéis, “recorrendo” a facínoras sem pingo de
dignidade ou de humanidade.
O
sacrifício de reféns é o prato dia que se serve on-line às nações que os
combatem, e os pedidos de resgate para libertar esses reféns são meros
artifícios para exponenciar o sacrifício e a mediatização do terror,
prolongando no tempo o sofrimento e a pressão sobre as autoridades dos países
de origem das vítimas.
Invariavelmente,
os Estados a quem são pedidos os resgates em troca de vidas humanas, não
aceitam a chantagem, assumindo que uma posição de fraqueza se traduziria na
abertura duma caixa de Pandora, num precedente com consequências difíceis de
imaginar. Compensar o crime não está no campo das hipóteses, mesmo quando do
outro lado se sabe que alguém vai perder a vida. Para os Estados são os
chamados danos colaterais, inevitáveis, preferíveis a uma subjugação, num
algoritmo que pondera o interesse e a segurança colectivos e individuais.
Uns
milhares de quilómetros mais a ocidente, um laboratório farmacêutico, cujo nome
não refiro por nojo, em nome de outro deus, que chafurda no lucro à custa da
miséria e do sofrimento humanos, exige aos Estados quantias obscenas para
salvar vítimas da hepatite. O meio é o mesmo, o resgaste pedido tem como
contrapartida vidas humanas, tem na base o terror e o sofrimento.
E
como se comportam neste caso os Estados? O nosso Estado? “Elementar meu caro
Watson”! O Estado reage com a mesma firmeza e a mesma determinação com que se
combatem os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, não cedendo a
chantagens, assumindo a perda de vidas humanas como danos colaterais.
Detenhamo-nos pois no paradoxo: "Os Estados devem fazer tudo o que está ao
seu alcance para salvar vidas humanas, os Estados devem fazer tudo o que está
ao seu alcance para garantir os melhores cuidados de saúde mas é mentira que
custe o que custar, no sentido em que tenhamos os recursos ilimitados para
suportar qualquer preço de mercado, isso não existe nem em Portugal nem em lado
nenhum do mundo" (Pedro Manuel Mamede Passos Coelho - dixit)
Devo esclarecer que para mim, são
tão terroristas os hirsutos de barba e turbante, como os de focinho escanhoado e
gravata de seda! Ambos representam o que de pior a natureza humana pode
suportar. Ponto!!!
Porém, entre o modo de enfrentar esta
duas formas de terrorismo, parecendo haver semelhanças, que as há, há também uma
diferença fundamental. É que em relação ao resgate das vítimas sequestradas
pelo laboratório, com a sua postura de merceeiro imperturbável, o Estado apenas
condena à morte os que não têm meios próprios para adquirir o medicamento que
garante a cura numa elevadíssima percentagem de casos. Ou seja, neste caso o
papel do Estado resume-se ao do avarento zarolho que não suporta pagar medicamentos
para resgatar vidas, porque os recursos são limitados, mas que não ousa entraves
ao salvamento da corja de banqueiros e quejandos que durante décadas assaltou o
país, ou ao pagamento de rendas garantidas nas PPP’s, esquecendo por completo o
seu elementar papel de cuidar e zelar pelo acesso de todos, sem excepção, à
saúde.
Mas mesmo que possamos dar de
barato que a postura do laboratório é inaceitável e o Estado não a deve
tolerar, é bom não esquecer que neste caso salvar vidas não é incompatível com
o combate a este tipo de terrorismo. Porque este tipo de terrorismo é resultado
das consequências óbvias da liberalização de sectores fundamentais,
nomeadamente o da saúde. Este terrorismo é alimentado pela privatização
desenfreada do sistema de saúde e da investigação e produção científicas, os
quais deveriam estar ao serviço de todos. Este é o resultado de tratar a saúde
não como um direito, mas como uma mercadoria. Mesmo que agora o ministro nos
venha dizer que o governo português conseguiu o melhor acordo que na Europa
algum Estado fez com o repugnante laboratório. Porque entre o pedido de resgate
e o acordo final, que continua a ser lesivo e obsceno, houve danos colaterais irreparáveis.
E isso por si só é uma tragédia. Da responsabilidade do Estado, obviamente.
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