Pedi à Lurdes Rata que me fosse
buscar o espremedor dos limões e tentei a minha sorte. Quase nada. Apenas meia
dúzia de pequenas gotas escorreram para a base do espremedor. Talvez tenha
utilizado o equipamento errado, pensei cá para comigo. Vou tentar a
centrifugadora Moulinex. Talvez tenha mais sorte. Talvez a força centrifuga consiga
o milagre de transformar os chavões pré-cozinhados, soprados por um qualquer guru
pós-moderno, em meio decilitro de sumo. Já não peço mais…
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Ora pensava eu que uma identidade
se construía ao longo de anos, com base no ADN herdado e em resultado daquilo
que são competências técnicas (e artísticas) adquiridas e consolidadas ao longo
de diversas gerações. Ora pensava eu que a Marinha Grande era única e
irrepetível pelo património industrial (e cultural associado) acumulado ao
longo de anos e anos de trabalho árduo e de empreendedorismo autêntico. Ora
pensava eu que todo o trabalho se devia concentrar num esforço autêntico e
genuíno para recuperar, preservar, manter, desenvolver e elevar a patamares superiores
de excelência aquilo em que orgulhosamente nos revemos e em orgulhosamente
somos competentes, a nossa verdadeira identificação colectiva. Quando, por
artes mágicas - abra-cadabra - descubro que a mudança de identidade se pode decretar
através de uma simples intervenção plástica, estética, em resultado da
manipulação em laboratório, uma espécie de identidade proveta trazida á luz do
dia por estrangeirados e iluminados.
Não sou contra a modernidade nem
contra novos conceitos. Não sou contra o design nem contra novas tendências. Não
sou contra a engenharia nem contra a investigação e desenvolvimento. Mas sou absolutamente
contra uma política pacóvia de destruição dum património secular, sobretudo por
omissão, rendida a uma suposta visão redentora duma nova identidade, um espécie
de desígnio colectivo que não tem qualquer suporte, nem económico, nem social,
nem político, e que, acima de tudo, não encontra o mais pequeno eco na prática duma
equipa que lidera de forma amadora e casuística os destinos da nossa amada
terra.
“Que se deixe cair a Capital do
Vidro e dos Moldes “ – proclamou o rei! – “Mandem anunciar por todo o reino que
de agora em diante seremos o Centro de Engenharia & Design. E agora vou-me
retirar que estou estafado! É que esta coisa de perspectivar o vosso futuro é
uma coisa que me consome muita energia! Não é Vitinho?”
Agnostico e atrasado. Leia o que o Miguel Palmela escreveu no facebook.
ResponderEliminarBem! Caro Relaxoterapeuta
ResponderEliminarHá poucos minutos quando liguei esta coisa levei um murro no estômago ao saber da partida do Marcelino. Sim penso que ainda é do tempo da tasca do Mateus mais tarde transformada na Regional Minhota. Difícil acrescentar algo ao que diz sobre esta esta coisa do "Design" e só não me confesso agnóstico, porque já o fiz muita vez.
Abraço
Rodrigo
PS: Cumprimentos à Lurdes Rata (pensei que também já tinha ido engrossar a lista dos desempregados).
Caro Rodrigo,
Eliminarlamento a morte do Marcelino, homem cordial e profissional competente, o qual conhecia pessoalmente.
Embora tivesse conhecimento do seu estado de saúde, não imaginava este desfecho.
Sinceramente não percebo o sentido do comentário do anónimo que me antecede.
ResponderEliminarDa leitura do que o Miguel Palmela disse na sua intervenção, só consigo concluir que este post e a dissertação do Miguel se complementam. O Miguel, por outras palavras, passou exactamente esta mensagem.
Há um legado histórico-cultural que nos tornou conhecidos,nacional e internacionalmente e nesse legado, predomina a arte vidreira.
Desde a segunda metade da década de 90 que se fez um enorme esforço para recuperar o prestígio do sector, fortemente abalado pelo encerramento criminoso da FEIS, decretado por Cavaco Silva.
Conseguiu-se recuperar para a cidade todo o Património Stephens que estava condenado ao abandono. Instalou-se o Museu do Vidro, tentou-se relançar uma marca que nos identificasse com a nossa matriz, o Vidro.
Estava projectado O Museu Vivo, indispensável à transmissão do saber das gerações de vidreiros que se viram forçados ao desemprego ou a negociar pré-reformas aos 45 e 50 anos de idade.
Tudo isto se esfumou no turbilhão das sectárias lutas políticas e a um projecto de renovação e recuperação da arte vidreira, assente na tradição do saber fazer e no capital humano que estava disponível, sucederam-se as obras de fachada, onde faltava, e falta, o sumo que o espremedor do Relaxoterapeuta não consegue fazer correr.
Agora, para decorar as fachadas, colocamos as bandeiras a anunciar que desistimos do nosso desígnio secular. Os vidreiros e a sua arte ficaram fora de moda. Vem aí a estação Outono/Inverno com novas colecções.
Caro A. Constâncio,
Eliminartinha intenção de responder ao anónimo mas o Armando fê-lo por mim.
E bem.