Aníbal António Cavaco tem sono fácil e pesado, cochila com
facilidade, mesmos nas situações mais inusitadas, apresentando ainda frequentes
e preocupantes episódios de apneia. Por vezes o estado de sonolência é de tal
modo profundo que, apesar do circo arder em seu redor, mais parece morto, mortinho
da Silva.
Porém, Aníbal António tem uma cútis extremamente sensível e
reage a pequenos estímulos que de quando em vez lhe activam os condicionados sensores
da epiderme, interferindo de imediato com os períodos em que os sentidos se
encontram insensíveis. Basta que entre duas ressonadelas profundas alguém sopre
o nome de “palhaço”, lhe vá à parca pensão ou imagine sequer que o dito já
posou para a posteridade ao lado de Oliveira e Costa & Associados, e a
reacção é imediata. Bastas das vezes deselegante e petulante.
O último episódio conhecido de súbita reacção alérgica foi o
do zumbido do velho zangão Mário, que lhe passou de raspão junto ao umbigo. Acto
contínuo, Anibal António, que não sentira o intenso cheiro a esturro quando
Machete, o turra responsável pela intendência, ateou um bidão de querosene em
Angola para imolar o seu próprio país, despertou de imediato em sobressalto e
até chegou a “sentir uma violenta picadela” desferida sem dó nem piedade pelo
antecessor jubilado, ignorando o facto dos zagões não terem ferrão. Afinal,
aquela ausência injustificada a uma aula da segunda classe para ir aos grilos, numa
soalheira tarde da primavera de 1946, revelara-se agora fatal para o domínio
básico da entomologia.
Mas desta vez, ao contrário da outra em que despachou para o
meirinho um difamador de Palhaços, a reacção de Anibal António foi sofisticada.
Puxou dos galões carcomidos pele traça e dissertou professoral sobre a solidez
e clareza dos esclarecimentos prestados, sobre o reconhecimento do papel do
decano zangão, sobre o respeito institucional, sobre a preservação da dignidade
devida à instituição que representa de forma intermitente e sobre como fazer, em
pouco tempo, mais-valias na compra e venda de acções manhosas. Perdão, corrijo:
este último item da palestra foi omitido porque os 140 caracteres do twuitter
também não dão para tudo, não é?
Misericórdia! Misericórdia! Misericórdia! Haja alguém que
explique a esse senhor que repousa enfastiado em Belém, que ele é que tem falta
de dignidade e de respeito! É bom que ele não se esqueça que só continuamos a
ser governados por um bando de incompetentes porque ele próprio caucionou essa
solução, porque ele mesmo quer que seja essa burricada a tomar conta do governo,
um escritório de representação da troika que se instalou em São Bento, a
expensas da borregada, para despachar as decisões dos esmoladores. Haja alguém
que explique a esse fulano que os juros de usura que dispararam em flecha nos
últimos tempos, pode agradece-los à crise conjugal que o Paulinho, em momento
de desiquilibrio emocional, decidiu despoletar de forma irrevogável! Haja
alguém que explique a esse sujeito que a falta de respeito que as “instâncias
internacionais” demonstram pelo nosso Estado de Direito e pelos nossos Órgãos
de Soberania, mais não são do que a consequência óbvia do seu próprio
desrespeito e da sua quebra de lealdade em relação ao que jurou defender – a
Constituição. Haja alguém que explique a esse sicrano que há muito que o país
retirou a confiança política aos pseudo-guionistas da Reforma do Estado. Haja
alguém que explique a esse dorminhoco que o país está à beira do caus social e que
ele se prepara para promulgar um embuste, argumentando que seria pior para o
país viver sem orçamento do que viver com um que viola as normas constitucionais.
Haja alguém que transmita a esse irresponsável que seria muito melhor para o
país viver sem presidente, do que com um que não tem a mínima noção do que
significa “Sentido de Estado”. Haja alguém que me chegue um copo de água com
açúcar e que me ponha o coprimido debaixo da língua, que estou à beira dum
ataque.
Como não me sinto capaz de comentar este post, peço desculpa, mas vou levar para o facebook.
ResponderEliminarO melhor comentário que poderei fazer é partilhá-lo.