12/12/14

Pinar ou opinar, eis a questão




Ter ou dar opinião é saudável. Mas não ter ou não dar opinião, também é saudável. É um direito. E, atrevo-me, às vezes até deveria ser um dever. Contudo, a acrisia que reina nos media, na blogosfera, nas redes sociais, na sala de espera do posto médico ou na fila da caixa do Pingo Doce, condena este país à ditadura da opinião, a uma constante pressão para a formação de opinião precoce, a uma constante pressão para a marcação da agenda política, económica, social, com base no mediatismo da opinião dos mais iluminados.

Paradoxalmente, a verdade é que a opinião está definitivamente democratizada, o que até pode nem ser mau. O que é fracamente bom. Mau, é que a opinião seja transformada em verdade absoluta, é que não seja escrutinável, é que se baseie em suposições e não em factos, é que a opinião se transforme no próprio facto sendo por isso também objecto de opinião, é que a opinião seja transformada num momento de iluminação intelectual de peritos em… opinião. Mau, é que a opinião não se forme no tempo certo, com base na informação útil e necessária, de forma critica e responsável, em plano de igualdade, até porque a opinião é como a genitália, cada um tem a sua. Ou será que a vagina da Lurdes Rata, a minha mulher a dias, vale menos do que o falo do professor Marcelo ou a pilinha de Marques Mendes? – “Claro que sim!” – responderão vossas eminências pardas em geografia corporal. “Claro que sim!” – concedo eu, de orgulho ferido.

Porque, meus caros, o problema do país não é um problema de opinião. Não, não é. Aliás, estaríamos podre de ricos!... O problema é demográfico. É de envelhecimento da população. É de envelhecimento da opinião. E é por essa razão que deveríamos passar mais tempo a pinar e menos tempo a opinar. Até porque, mesmo antes de ser uma actividade recreativa, pinar é uma actividade criativa. E o país precisa urgentemente de gente feliz e criativa. O país precisa que mandemos os opinadores pinar!
Será que eu devia ir tomar o comprimido azul em vez de estar para aqui a emitir opinião?


10/12/14

Habeas Corpus da Semana


Entre a audição do primo mau e do primo bom, vou espreitando, sem grande entusiasmo, a despedida europeia do Glorioso.
No banco, mascando uma pastilha do tamanho dum tijolo, Jesus mostra tanto entusiasmo como eu.
Volto ao parlamento e deixo-me de novo embalar, horas a fio, pelo canto de aves canoras. Se ao menos Teresa Guilherme pudesse entrar em directo…
Ontem, pela primeira vez nas últimas semanas, Sócrates não foi a estrela da companhia. A audição aos primos Espirito Santo, roubou o prime time ao famoso recluso 44. Está tudo louco? Há que recentrar o tema e o debate. Como ninguém se chega à frente, eu assumo as despesas e apresento o habeas corpus da semana. E desta vez o argumentário não vai desleixado numa fotocópia de notícia de jornal. Vai na essência etimológica do termo. Do latim…




As custas ficam por minha conta.


05/12/14

Poesia Negra




- Ambrósio!
- Diga, senhor.
- Apetece-me ouvir algo.
- Pois não, senhor.
- Algo diferente, Ambrósio…
- Algo sofisticado?
- Sim Ambrósio, sofisticado e denso. Espúrio.
- Com certeza, senhor. Drummond de Andrade?
- Humm… não sei… preferia algo entre o lirismo reflexivo pós-moderno e o dramma bernesco…sei lá…
- Feteira Pedrosa, senhor?
- Parece-me bem, Ambrósio. Vamos a isso!
- É para já, senhor.

António Costa (que eu não apoiei nas eleições primárias) é o Secretário-Geral politicamente mais bem preparado da história do PS, se dúvidas houvesse dissipou-as hoje, todas, no seu discurso de encerramento. A referência simbólica ao 1º de dezembro exortando o bom sentimento de pertença a uma comunidade de destino, essa gutural e permanente proclamação da direita e a evocação do primado da liberdade individual por contraponto ao ultramontanismo bafiento do preconceito, são disso incontornáveis exemplos numa civilização á deriva e nem o monolitismo doutrinário expresso na equipa política mais próxima (com o banimento que se saúda do , metafórico, conselho de administração da massa falida cessante) da qual Fernando Medina é a estrela mais reluzente, apaga nada do que escrevi anteriormente. António Costa é o peixe de águas profundas da nova plataforma continental, alargada! Nunca tive dúvidas e acho que também não me vou enganar ou não fosse a perfeição uma acumulação limitada de imperfeição.

Dr. Deputado Feteira Pedrosa in Facebook


- Sublime Ambrósio, na mouche!
- Não tem de quê, senhor.
- Mas, Ambrósio, o Deputado Feteira Pedrosa não tinha dito cobras e lagarto de Monsieur Costa e dos seu correligionários, no próprio Facebook?
- Upa, upa, senhor… recomendações pouco abonatórias, diria eu em português suave. Esconjurou-os, vá.
- Consegues recuperar essas “recomendações” Ambrósio?
- Lamento senhor, mas foram surripiadas do mural.
- Estás a insinuar que o Deputado Feteira Pedrosa adoptou as más práticas estalinistas e apagou o que disse anteriormente do novo supremo e amado líder no facebook , Ambrósio?
- Claro que não, senhor! Nunca me atreveria a insinuar tamanha infâmia! Por certo foi… foi… Ah! Já sei. Foi excesso de zelo da senhora da limpeza – o que ela acha que não presta, manda para o lixo! E agora? Quer que lhe leia algo mais… aconchegante? Talvez, Henrique Neto? Medina Carreira?
- Prefiro uma ginja de Alcobaça, Ambrósio.


03/12/14

Sem dó, nem sol




Encontra-se a decorrer um concurso público para a aquisição de um piano, com um “valor de preço base” de 21.700€.

Não caindo na tentação fácil e básica do primeiro impulso, coloco o comprimido debaixo da língua, procuro baixar o ritmo cardíaco, regularizar a respiração e manter o diálogo num tom calmo, pausado e cordato. Faço um último apelo à (minha) razão e solto a pena. Cá vai.

Tenho dificuldade em entender certas coisas, sobretudo porque desconheço políticas, prioridades e critérios. Sobretudo porque desconheço a utilidade, a racionalidade e as alternativas. Sobretudo porque desconheço as motivações, a lógica e a oportunidade. Sobretudo porque desconheço…
Ah! Mas conheço o discurso das dificuldades e da falta de verbas. Conheço a narrativa da Lei dos Compromissos. Conheço a lenga-lenga da transparência e do rigor financeiro. E, sobretudo, sobretudo conheço as dificuldades dos agentes culturais do nosso concelho, a sua determinação, a sua vontade inabalável e as suas motivações. Apesar da falta de meios é gente que não se resigna. Que acredita.
Eu também quero acreditar que a compra do piano, que a compra deste piano, é uma decisão sensata, oportuna, útil e racional. Mas para isso só vislumbro uma hipótese que transformo num apelo pessoal:
Caro Dr. Vitor Pereira, por favor, para além dos magníficos vídeos que diariamente partilha connosco na rede, partilhe também, por favor, tudo o que precisamos saber para entender o que esperar deste executivo, para o presente e para o futuro da cultura no nosso concelho. Será que não leu o que escrevi sobre a futura política cultural para o Casal da Formiga? É só uma ideia...



01/12/14

Nada na manga!


Até à pretérita semana apenas três portugueses ainda não se tinham pronunciado sobre o caso do cidadão português, emigrante em Paris, preso na manga dum avião que regressava da cidade luz carregado de livros de filosofia e de ciência política, a saber: o Sr. Silva, a Lurdes Rata e eu.
Como entretanto o Sr. Silva também se pronunciou sobre o “tema candente”, sobro eu e a Lurdes Rata.
Quanto à Lurdes Rata, não sei. Penso que enquanto a Casa dos Segredos lhe for ocupando o neurónio não haverá qualquer reacção à actividade do infatigável juiz Alexandre e do “seu” TIC, que mais se assemelha a um SAP.
Já quanto a mim, reitero a indisponibilidade para falar sobre o que não sei nem conheço! Se tenho suspeitas? Sim tenho. Acho que a minha vizinha da frente anda a encornar o maridinho. Todos os dias por volta das três da tarde vejo sair duma carrinha cinzenta com os dizeres “Alcides – Desentupimentos e Encanalizações”, estrategicamente estacionada duas casas à frente, um careca luzidio de macacão azul, com uma chave inglesa numa mão e um smartphone na outra. Depois dirige-se apressadamente para a casa da presumível galdéria, olhando para todos os lados, como se estivesse a ser seguido, e penetra na vivenda cuja porta se abre e fecha subitamente. Por volta das quatro sai pelas traseiras, com a chave inglesa numa mão, o smartphone na outra e um sorriso de orelha a orelha. Eu sei que até transito em julgado o vizinho da frente não é manso, a mulher não é galdéria e o “encanalizador” apenas faz o seu trabalhinho. Mas pelo falatório do outro dia ao pé do contentor, já há dúvidas quanto à paternidade do mais novo que “é a carinha chapada do careca”, segundo comentava entre-dentes a Clementina “Badalhoca”. Era inevitável. Visceral.
Não devo contudo deixar de sublinhar uma reacção que tive à “intervenção” do Sr. Silva, de quase auto-defesa. Uma reacção desenvolvida de forma inconsciente ao longo dos anos, sempre que o Sr. Silva regorgita bolo Rei enquanto comenta em tom professoral a actualidade. Coço a pulga atrás da orelha e digo para comigo – “Bom, se o Sr. Silva diz que as instituições estão a funcionar com normalidade é porque, estão… Bem, da última vez a coisa correu mal. Estava ele entusiasmado a “vender” boas acções do BES e o Sami a abrir cova em Casal Galego…”
Apesar do meu conhecido gosto pelo ilusionismo, desta vez não tenho nada manga. Nem na minha nem na do avião que descolou de Paris com um inocente e que aterrou na Portela com uma rara peça de leilão: “Quem dá mais?”