13/11/14

"Há Legionella na Justiça!"




Por momentos Teixeira da Cruz experimentou uma sensação de alívio. Após alguns dias de uma inusitada prisão de ventre, tinha acabado de largar, sem esforço aparente, um presente do tamanho de um generoso leitão.
Olhou em redor procurando descobrir onde raio estava o papel higiénico ou algumas toalhitas. Em vão. Crato e Machete tinham derretido todo o stock de material de higienização corporal, após longas e persistentes diarreias. Só havia uma solução. Usar as próprias mãos e a seguir limpá-las à parede. Mal por mal sempre evitaria dar cabo do underwear renda de pelúcia novinho em folha que vestira pela manhã. Embora sujeita a cortes orçamentais, não prescindia do conforto Victoria’s Secret.
Apesar do ar irrespirável, da Cruz não tinha a noção clara de que poderia sucumbir vítima de si própria. Foi por isso que, já a cambalear mas na maior das calmas, decidiu abandonar o pequeno cubículo sanitário, não antes sem ajeitar o cabelo e o saia-casaco azul-bebé.
Voltou a olhar em redor. Desta vez não procurava nem papel higiénico nem toalhitas. Procurava culpados. Sabotadores. Toupeiras. Infiltrados. Qualquer coisa que lhe permitisse justificar o colapso do programa informático que ajudava a empurrar a justiça com a barriga.
Foi então que, à sua esquerda, reparou em duas pequenas nuvens que ser erguiam sobre dois enormes e potentes computadores, que ocultavam por completo os frenéticos funcionários que trabalhavam arduamente por de trás. "Aerosóis!", concluiu de imediato. De certeza que as duas pequenas nuvens eram gotículas de água carregadas de colónias de Legionella. Estava ali a razão de toda a desgraça.
Ao mesmo tempo que corria para o telefone fixo estrategicamente situado à saída da sala de comando, berrou a plenos pulmões – Ninguém se mexe! Ninguém respira! Ninguém faz nada até ordens em contrário!
Com a destreza dum bisonho, contactou as autoridades especializadas e aguardou em posição de ataque.
As brigadas de intervenção sanitária chegaram ao local pouco tempo depois e deram de imediato inicio à colheita de amostras e aos inquéritos da praxe. Atrás dos dois computadores suspeitos, os funcionários destacados permaneciam inertes e lívidos. Não tanto pelo aparato, mais pelo cheiro nauseabundo que inundava a sala.
Após algumas horas de testes, inquirições, pesquisas e investigações, George, o chefe do piquete de intervenção, mandou recolher o pessoal e o material, dirigindo-se a Teixeira da Cruz para fazer o ponto da situação:
- Os funcionários dos computadores estão a gripar. As nuvens que se viam por cima das cabeças dos suspeitos eram fumo relacionado com o sobreaquecimento das moleirinhas. Dê-lhes descanso e Guronsan, que eles estão agoniados. Já agora. Tem ideia que cheiro intenso seja este? Até parece que alguém fez m… fezes…
Teixeira Cruz empertigou-se no saia-casaco azul-bebé e respondeu de pronto.
- Não faço a mínima!...

6 comentários:

  1. Bem meu caro!
    Logo no primeiro parágrafo comecei a rir de tal forma que a minha vizinha achou que o aperitivo que tomei antes do jantar (que vem aí) me fez mal. Pronto nem imagina como o invejo por dizer estas coisas (bastante sérias) da forma como o faz.

    Hoje vai um abraço.
    Rodrigo

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  2. A. Constâncionovembro 13, 2014

    Ler estes textos é melhor do que saborear os pasteis de nata do Álvaro, saudoso ex-ministro da economia. (comparado com o actual, claro)

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  3. Boa tarde Miguel Palmela.

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  4. Bom dia Aurelio.

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  5. Bosta de texto.

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