21/11/14

A Cultura (no Casal da Formiga)



Chiça!
Agora só falta uma política para a cultura!

Grizalheiro


Não tenho nem nunca tive cargos políticos. Nem tão pouco ambições. Pela simples razão de considerar essa assumpção uma missão tão nobre e significativa que apenas deve ser assumida pelos mais dotados e melhor preparados.
No entanto, não tomando dores que não são minhas, mas questionando-me sobre o que faria se tivesse responsabilidades, tomo em mãos um pequeno exercício que poderia resultar certamente numa discussão eventual e virtual sobre o tema. Porém, não tenho expectativas. Pensar dá trabalho e, como muito bem recordava o Armando Constâncio na rede, citando Aristóteles, “só existe uma maneira de evitar as críticas: não fazer nada, não dizer nada e não ser nada”.
É que de facto, a constatação “la palissina” sobre a ausência duma política cultural para o concelho, nunca se converte num momento de partilha de ideias e de acréscimo de valor, nunca se transforma na questão mais básica que nos poderíamos colocar a nós próprios: e se fosse eu, o que faria?
Está decidido. Saiu da minha zona de conforto e concentro-me, sem delongas, num esboço-resumo. A pedido, talvez possa desenvolver e tecer considerações de natureza politico-filosóficas de grande profundidade intelectual e de profundo amadurecimento teleológico. Contudo, aviso-vos já, não fica nada barato.


… apontamentos de um virtual vereador sombra, sobre a definição duma Política Cultural para o futuro município do Casal da Formiga:

Objectivo:
- proporcionar a toda a comunidade concelhia a prática e o acesso a vivências culturais e artísticas potenciadoras do seu desenvolvimento, bem-estar e qualidade de vida, contribuindo de forma determinante para o aumento exponencial da “Felicidade Interna Bruta”;
- promover a democracia participativa através da cultura e das artes;
- projectar além-concelho todos os projectos culturais e artísticos de reconhecido mérito;

Eixos Estruturais:
- Cultura do ensino;
- Cultura da memória;
- Cultura da criação;

Linhas de Acção:
- Identificação das regras de acesso, competências e atribuição do estatuto de Parceiro Cultural (apenas entidades sem fins lucrativos – associações culturais, de sector, museus, etc);
- Definição das regras de acesso e atribuição de financiamento aos Parceiros Culturais e a candidaturas de outras entidades;
- Criação do Conselho Cultural Permanente (Parceiros Culturais e Município, em parceria e articulação, sob coordenação do Município) – definição do calendário cultural anual, atribuição de competências co-organizativas, identificação de projectos culturais e artísticos de reconhecido mérito, reorganização e rentabilização de espaços físicos individuais, e auscultação e conselho sobre linhas de acção;
- Definição das regras de utilização de todos os equipamentos culturais do Concelho;
- Definição do modelo de funcionamento e de gestão da Casa da Cultura;
- Aprovação e divulgação, atempada, dos subsídios a atribuir no ano seguinte, mediante a apresentação de projectos culturais e artísticos enquadráveis nos objectivos da política cultural, e ponderados pela relevância atribuída a cada um dos Eixos Estruturantes;
- Controlo anual do cumprimento dos objectivos genéricos de política cultural, e em particular dos projectos financiados, sua divulgação e discussão pública;
- Desenvolvimento de parcerias com entidades públicas e privadas, para a concretização e/ou desenvolvimento de núcleos museológicos, em espaços colectivos e em espaços industriais;



E mais não digo para vos não maçar.



13/11/14

"Há Legionella na Justiça!"




Por momentos Teixeira da Cruz experimentou uma sensação de alívio. Após alguns dias de uma inusitada prisão de ventre, tinha acabado de largar, sem esforço aparente, um presente do tamanho de um generoso leitão.
Olhou em redor procurando descobrir onde raio estava o papel higiénico ou algumas toalhitas. Em vão. Crato e Machete tinham derretido todo o stock de material de higienização corporal, após longas e persistentes diarreias. Só havia uma solução. Usar as próprias mãos e a seguir limpá-las à parede. Mal por mal sempre evitaria dar cabo do underwear renda de pelúcia novinho em folha que vestira pela manhã. Embora sujeita a cortes orçamentais, não prescindia do conforto Victoria’s Secret.
Apesar do ar irrespirável, da Cruz não tinha a noção clara de que poderia sucumbir vítima de si própria. Foi por isso que, já a cambalear mas na maior das calmas, decidiu abandonar o pequeno cubículo sanitário, não antes sem ajeitar o cabelo e o saia-casaco azul-bebé.
Voltou a olhar em redor. Desta vez não procurava nem papel higiénico nem toalhitas. Procurava culpados. Sabotadores. Toupeiras. Infiltrados. Qualquer coisa que lhe permitisse justificar o colapso do programa informático que ajudava a empurrar a justiça com a barriga.
Foi então que, à sua esquerda, reparou em duas pequenas nuvens que ser erguiam sobre dois enormes e potentes computadores, que ocultavam por completo os frenéticos funcionários que trabalhavam arduamente por de trás. "Aerosóis!", concluiu de imediato. De certeza que as duas pequenas nuvens eram gotículas de água carregadas de colónias de Legionella. Estava ali a razão de toda a desgraça.
Ao mesmo tempo que corria para o telefone fixo estrategicamente situado à saída da sala de comando, berrou a plenos pulmões – Ninguém se mexe! Ninguém respira! Ninguém faz nada até ordens em contrário!
Com a destreza dum bisonho, contactou as autoridades especializadas e aguardou em posição de ataque.
As brigadas de intervenção sanitária chegaram ao local pouco tempo depois e deram de imediato inicio à colheita de amostras e aos inquéritos da praxe. Atrás dos dois computadores suspeitos, os funcionários destacados permaneciam inertes e lívidos. Não tanto pelo aparato, mais pelo cheiro nauseabundo que inundava a sala.
Após algumas horas de testes, inquirições, pesquisas e investigações, George, o chefe do piquete de intervenção, mandou recolher o pessoal e o material, dirigindo-se a Teixeira da Cruz para fazer o ponto da situação:
- Os funcionários dos computadores estão a gripar. As nuvens que se viam por cima das cabeças dos suspeitos eram fumo relacionado com o sobreaquecimento das moleirinhas. Dê-lhes descanso e Guronsan, que eles estão agoniados. Já agora. Tem ideia que cheiro intenso seja este? Até parece que alguém fez m… fezes…
Teixeira Cruz empertigou-se no saia-casaco azul-bebé e respondeu de pronto.
- Não faço a mínima!...