De forma ritmada e com a precisão
dum ourives de Viana, o chefe de equipa ía solicitando com voz roufenha de
cachaça e tabaco, os instrumentos de que necessitava para reparar as secções
danificadas.
A cada solicitação do chefe os
serventes acenavam de imediato com o utensílio, gritando com sotaque
vincadamente alemão – “Prronto!”
- Serrote!
- Prronto!
- Chave inglesa!
- Prronto!
- Rebarbadora!
- Prronto!
- Óleo!
- Prronto!
- Martelo!
- Prronto!
- Eu disse martelo, porra, não
disse marreta!
- Prrontos, desculpe...
- Desculpe a prima. À conta destes
enganos dei cabo dum que estava quase bom!…
À fina ironia do chefe, respondeu
toda a equipa com uma monumental gargalhada. O chefe era especialista em tiradas
humorísticas assertivas e perspicazes. Considerava mesmo que, em vez de anos e
anos a queimar as pestanas, poderia perfeitamente ter vingado no stand-up.
- Ó chefe, e daquela vez em que pusemos
pastilha Gorila nos travões do gajo? – recordou um dos serventes.
Imitando o sotaque do xerife de
campo, num subtil sibilar de sopinha-de-massa, o chefe dos estaleiros atirou nova graçola:
- Aqui trabalha-se… com
tranquilidade… com tranquilidade…
Nova risada geral.
A humidade e o calor tornavam o
ar irrespirável e faziam toda a equipa suar em bica, obrigando a algumas paragens
técnicas para hidratação, com choupinhos, caipirinha e shots de cachaça de
jambu, aliás, os mais apreciados pelo chefe de equipa, que também não
dispensava um bom forró como música ambiente para lhe aumentar “os índices de
concentração”.
Volvidos alguns minutos de
aturado trabalho de recuperação, o chefe chamou um dos directores de serviço,
um baixote de madeixas aloiradas experiente em cenas de pugilato com árbitros, e deu-lhe indicações precisas:
- Este está pronto. Leva-o para o
balneário e diz ao Bento que, pelo menos um quarto de hora funciona. Depois
disso, não garanto nada.
- Mas sempre se arranjam onze? –
retorquiu o baixote.
- Olha-me este. Onze? Ò menino,
nem tu sabes o que eu consigo improvisar com material em segunda-mão.
Toda a equipa de serventes
respondeu de imediato com uma solidária gargalhada forçada.
Colocaram Postiga no
porta-paletes e ficaram a admirar o baixote desaparecer no corredor empurrando o
carrinho com afinco.
Um dos serventes, que há alguns
minutos atrás rira de forma desbraga, mas que não tinha percebido o alcance da
piada, remoendo a frase enigmática solicitou uma aclaração:
- Ó chefe, aquela da marreta… foi
na cabeça do Pepe, não foi?
Há muito que não vejo por aqui o Vento Norte. Será que se arrependeu? E o que é feito do resto do pessoal do Largo das Calhandreiras?
ResponderEliminarE o que é que o Vento Norte tem a ver com o Largo das Calhandrices?
ResponderEliminarConfundir Calhandreiras com calhandrices é o mesmo que confundir aldrabas com aldrabices.
ResponderEliminarTem razão o anónimo. Nada têm a ver. Num falavam de algumas coisas interessantes, no outro dão a saber o que alguns querem esconder. São duas realidades diferentes.
ResponderEliminarÉ pois, o largo do macaco é uma especie de PIDE dos tempos modernos.
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