11/07/13

O Estado da Nação – um governo, uma maioria, um presidente e vinho à discrição…

 
Tentar manter a higiene mental nos dias que correm, é talvez o maior exercício de cidadania a que nos podiam sujeitar. Por isso tenho tentado condicionar os impulsos de repulsa e de nojo que me têm revirado as entranhas. Verbalizar, ou neste caso, escrever o que me vai nos neurónios por estes dias, seria, para além de tarefa inglória, um desaconselhável exercício de esquizofrenia e de incapacidade de utilização de linguagem pejorativa severa. Expressões como #%&$£?  #$  &§@% ou mesmo &  €@§@%&  #%$  &#  %&@£, seriam brandas e até eventualmente elogiosas para certos finórios encastados.
A crise, transversal e patológica, não é económica, nem política, nem de valores, nem de confiança, nem endémica. É isso tudo e muito mais. É uma espécie de ácido incolor e inodoro que vai corroendo de forma permanente e eficaz tudo e todos – pessoas, instituições, estados, nações.
A espiral de terror e de espanto deslocalizou-se do grande ecrã para o cenário real, em que todos participamos como actores e como figurantes. E quando se pensa que o pior já passou, abre-se uma nova porta ou uma nova janela, a partir da qual somos projectados para um cenário de conteúdo terrífico incomensuravelmente superior ao cenário anterior, em crescendo. Dantesco! As imagens, os cheiros e os sons podem assumir sempre novas formas de decomposição e de putrefacção quem nunca imaginámos existirem. Descer aos infernos não se fica pelo piso -623, o último a que o elevador desce, ainda há uma frágil escadinha de tubo galvanizado, serpenteando em caracol, que se perde na escuridão do buraco.
Sá Carneiro tinha sonhado um projecto político para Portugal, que passaria pelo domínio absoluto do poder político e legislativo, através do controlo dos órgãos de soberania sujeitos a sufrágio universal e directo - um governo, uma maioria e um presidente – os quais permitiriam, como corolário, a “estabilidade política” necessárias à plena aplicação da social-democracia. Nunca lhe ocorreu porém que a equação original contivesse uma quantidade tão grande de variáveis incontroláveis, quer de carácter endógeno quer exógeno. Só que nestas coisas das ciências humanas não há simuladores, laboratórios de experimentação ou aplicação em escala reduzida. Prognósticos só mesmo no fim do jogo e a realidade actual demonstra à saciedade que a bondade que se presume para um modelo perfeito é em si mesma o maior motivo para a sua própria perversão. A falta de mecanismos de controlo eficaz e eficiente dão o empurrão e a falta de consciência crítica (vulgo “vergonha na cara”) fazem o resto. Pior do que não se saber para onde ir, é não ter consciência disso.
Penso que o estado a que chegámos, muito próximo do ponto de ebulição e de não retorno, merece muito mais do que indignação, merece uma acção individual de intransigência, manifestada colectivamente de forma destemida e intrépida. Neste momento deveríamos estar todos na rua a exigir a demissão do governo, a dissolução da assembleia da república e a aposentação compulsiva do decrépito Silva.
O que se passou ontem ao serão com a conversa em família, do pai Silva para os filhos da nação, foi o maior exercício de afirmação e do seu contrário a que já alguma vez assisti em vida. Em vida sim, porque me cheguei convencer que tinha finado e que aguardava nervoso na sala de espera do consultório do capeta, na presença de companhia pouco aconselhável.
Tudo porque o Sr. Silva, ainda não tendo tomado plena consciência da sua falta de dimensão politica e da sua insignificância enquanto Homem de Estado, decidiu inscrever à força o seu nome no mais bizarro compendio da nossa história colectiva, subvertendo a magistratura de influência num estranho caldo de peixe com ossos de calção e caril, usurpando funções de juiz desembargador e continuando a aumentar a farta lista de heterónimos que criou ao longo de todos este anos em que, por esquecimento, foi político profissional (O Batatinha, O Banana, O Casca de Banana, O Tabu, O Devoto, O Biqueiro, O Homem do Leme, o Avô Cantigas, etc, etc, etc…).
Quando o mais alto magistrado da nação acha que o exercício da democracia participativa e o respeito pela constituição e pelo seu espírito provocam tensão pós-mestrual nos mercados, estamos conversados. Aliás, o Sr. Silva tem tanta dificuldade em compreender a realidade que, só para esbardalhar, conseguiu fazer o pleno: enervar as casas de apostas, juntar esquerda e direita num “ahhhh!” de espanto, fazer a irrevogabilidade de decisão de Portas parecer uma simples birra de puberdade e provocar o riso cínico aos agiotas de serviço e à concubina Gaspar. Só não conseguiu uma coisa básica dos manuais de decência, provocar a demissão do primeiro-ministro mais idiota que o país alguma vez suportou.
Mas façamos um simples exercício de hiprocrisia e admitamos por segundos que as propostas do chefe Silva são bondosas. Apliquemos pois o teste do algodão – faz aos outros aquilo que admites para ti próprio. Estão a imaginar o fulano como primeiro-ministro a aceitar semelhantes propostas de um qualquer chefe de estado, não estão? O algodão não engana…
É por tu isto que hoje fica muito mais claro porque que é que o ministério público decidiu não levar Sousa Tavares a tribunal, por suposta ofensa ao inquilino de Belém.
O ar está viciado e saturado. As concentrações de vapores etílicos são tão altas que já não se consegue respirar. Deixem o país arejar por favor – ELEIÇÕES, JÁ!
 

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