Encavalitado numa espessa nuvem de fumo de SO2, NO2 e NOx, vomitada para
a atmosfera pela chaminé duma moderna vidreira de embalagem, a uns bons cento e
vinte metros de altura, Édipo olhou uma última vez para baixo, procurando na terra
dos comunistas, insaciáveis marxistas-leninistas a perseguirem deliciosas
criancinhas, suculentas, tostadinhas - sim, que os comunistas pela manhã têm um
apetite voraz e uma tumescência de micção que dá má fama à terra. Aliás, não
fora o 18 de Janeiro e a terra até poderia ter sido o lugar escolhido para o 13
de Maio, ou não fora o Marquês de Pombal e os fleumáticos irmãos Catita, e a
terra até poderia ter sido a capital do móvel de pinho ou do caracol à Bulhão
Pato.
Porém, não alcançando à vista desarmada qualquer ogre vermelho,
Édipo decidiu cumprir a lenda e partiu para matar o pai e casar com a mãe dando
assim o mote, para Freud formular um famoso complexo que baptizou com o seu
nome, e para o diácono Remédios escrever uma rançosa crónica de pasquim
provinciano, em que decretou o fim do complexo, mas da canhota.
Felizmente que, para todos nós, filhos, enteados ou meros
habitantes da “terra” (como alguns primatas curiosamente lhe chamam), as garrafarias
investiram a tempo e modernizaram-se, os tempos foram rodando, o conceito purificando
e as pessoas evoluindo. Não fora isso e ainda hoje seríamos conhecidos pela “terra
do vidro e dos comunistas”, o que não auguraria nada de bom para as próximas
autárquicas. Nem para a indústria de moldes em particular. Sabiam que, sobretudo
no estrageiro, já se começa a ouvir dizer que a Marinha Grande é a terra dos
moldes? Caramba pá, mais do que nunca é preciso mandar descansar os ogres
vermelhos e o capuchinho rosa. O que é preciso é uma nova via de unidade na
acção. Ponto!
Eu sei que a prosa hoje está um pouco desconexa e até capaz
de causar alguns episódicos fenómenos de dislexia. É que o edipiano sentimento de
amor-ódio que me inspirou, toldou-me a moleirinha e saiu isto. Felizmente que não
tenho grandes responsabilidades e que o Conto do Vigário é de pequena tiragem.
Livra!...
Adeus Édipo. Adeus esquerda. Adeus capital do vidro.