Seguro
de si próprio e do seu papel de líder oposicionista desbotado, António José
colocou a voz, compôs o nó da gravata e, encarnando na sua melhor pose do pierrô
com lágrima ao canto do olho, lançou o trunfo – “Há que diminuir o número de
deputados, que só em torresmos, iogurtes gregos, papel higiénico de folha-dupla
e Renaults Clios, esses desavergonhados custam uma pequena fortuna ao reino! É preciso perceber que em tempos
de crise o país não se pode dar ao luxo de esbanjar com as mordomias da
democracia representativa!”. E ficou quieto a aguardar os ecos dos seus ventos
interiores.
Porém,
como os nervos andam à flor da pouca pele, já que o pantomineiro Gaspar se tem encarregue
de a esfolar delicadamente, camada após camada, ninguém esteve para lhe aturar
garotices e o fofó num ápice se esfumou, a democracia lá se livrou (por agora) da
lipoaspiração representativa e o pierrô encarnou o papel soprado pelos
assessores, nem sim, nem não, antes um suponhamos – “Obviamente que de momento
este assunto não é uma preocupação da esquerda dita democrática, mas também não
é um tema tabu!”. Ficou registado. Seguramente que as
suas intenções eram as mais cândidas, sobretudo do ponto de vista da outra esquerda dita de extrema. Contudo, alguém lhe deveria ter explicado que o nobre
gesto em favor da redução do défice redundou numa pregão popularucho contra uma
classe política sem classe, a necessitar urgentemente de quem a credibilize e
de quem a recupere para patamares de excelência, de confiança, de rigor, de
coiso. Como faz, por exemplo, aquele senhor, o Silva dos pastéis, que nos
contacta via facebook sempre que do alto do seu palácio pretende derramar sobre
o povo bordões de sapiência económica-social, psicotrópica, telúrica, apologética de
novos rumos e de novos caminhos - do mar que sempre ignorou, das pescas que desmantelou, do olival
que pagou para abater, da vinha que mandou arrancar, da produção de bens
transacionáveis que mandou encerrar - recolocando o debate no patamar em que deve estar, uns centrimetros acima do baixo ventre e um niquinho abaixo do umbigo.
Esta
breve reflexão teve contudo um mérito, desvendou-me uma maravilhosa ideia que
fará as delicias do camarada (dito) Seguro. Seguramente. E porque não rever a constituição e
passarmos a eleger o presidente da república através de “likes” no facebook? O
candidato criava uma conta no facebook, mandava escrever uns zurros e quem tivesse mais “likes” ganhava uma estadia grátis de cinco anos no
palácio cor de rosa, o país sempre poupa uns trocos com actos eleitorais e
merdices desse género e o resultado final era o mesmo. E que tal António José? Seguras-te? Vais ver que o pessoal adere
melhor do que àquela de recambiar o Feteira Pedrosa para a Praia da Vieira. Vais ver...
Caro Relaxoterapeuta
ResponderEliminarDe facto a "brincar" para que tem arte para isso, consegue-se dizer coisas bastante sérias.
Abraço
Rodrigo
Gaivotas em terra...
ResponderEliminarO Relaxoterapeuta ao mais alto nível.
ResponderEliminarFoi com satisfação, através do blog folha seca, que me dei conta do seu regresso e, desta vez, espero que não volte a emigrar, sei que está na moda, mas precisamos de alguém que nos alegre e nos ponha bem dispostos.
Abraço
As suas intervenções são sempre uma lufada de ar fresco. Desculpe que lhe diga, mas a ausência do seu olhar crítico e bem-humorado tem contribuído muito para o cinzentismo que por aqui anda nos blogs, excluídas as poucas excepções resistentes.
ResponderEliminarEm alturas mais amargas, e não são poucas fruto dos dias terríveis que vivemos, dei comigo a pensar qual seria a análise da Lurdes Rata a tantas bordoadas do Gaspar ou dos desqualificados que nos governam, sem esquecer os silêncios do Silva pasteleiro. Desqualificados, não, são mesmo azémolas.
Voltei pelo aviso amigo do Folha Seca e espero que venha para ficar, porque faz cá falta, é um antídoto para a mediocridade e para a tristeza dos dias a que nos condenam. Não lhe falta matéria, local ou nacional e tão pouco lhe falta, isso sabemos, engenho e arte.