27/02/15

Gaivotas em terra, tempestade... onde?




Esta e outras imagens no blog "Pensamentos de uma Gaja"


Se a minha avó Trindade fosse viva, diria que é coisa do demo e que são sinais do “fim do mundo”, ela que vaticinava - e que sempre esganiçou, alto e bom som, a famosa premonição: “A dois mil chegarás, de dois mil não passarás!”.
Infelizmente a velha finou-se (sem deixar pecúlio ao neto…) mais de duas décadas antes do suposto armagedão, não podendo por isso confirmar ao vivo e a cores que, tirando os bugs nos computadores e a solipampa da sogra da Lurdes Rata em pleno réveillon na sede das Figueiras, nada mais se passou nesse noite que merecesse algum destaque.

Quis por isso o destino, e o “Poderoso”, que a supersticiosa avó Trindade também não assistisse à actual invasão da cidade por hordas de gaivotas de pata amarela, e pelas suas convidadas, as primas nórdicas de asa escura, que procuram no remanso destas paragens, fugir  aos rigores do inverno do norte da Europa. Como se de repente o iluminado alcaide deste município virado a atlântico, a “conselho” da DDT e do sacripanta, eminente especialista em excursões, num golpe de asa e de astúcia política, tivesse aberto os campos da bola à aviação civil das bichas, para fazer pirraça, ao ausente engenheiro logarítmico e à sua pretensão de abrir Monte Real à Easyjet, e ao plano de desenvolvimento turístico apresentado pela camarista com o respectivo pelouro, em nome do centro de trabalho da Marquês de Pombal.

A verdade verdadinha é que o fenómeno transformou-se num problema de saúde publica (!) com consequências na própria economia local. Que o digam as garrafeiras próximas da Feira dos Porcos, que já contabilizam prejuízos e muitas dores de cabeça, para além de investimentos em tecnologia para espantar as inconvenientes palmípedes. É que se ao menos fossem cabras, não pousavam nos telhados das garrafeiras e sempre davam um desbaste na relva dos campos da bola, com as consequentes poupanças na subcontratação desse serviço pelo município. Pelo contrário, as malditas aves badalhocas, para além de defecarem ao mesmo ritmo que o “nosso” (vosso!) ministro dos assuntos alemães Mamede Passos Coelho debita graçolas sobre a Grécia, ainda transportam, para cá, lixo da Valorlis e pedaços de carcaças de galináceos do aviário contiguo.

Não sei se o assunto já foi a reunião do executivo, ou se o engenheiro Monteiro Ferreira já estudou o dossier. Registo contudo que asautoridades estão apreensivas, atentas à situação e que já fizeram “algumasdiligências e reuniões”. A avaliar por outros assuntos “entre-mãos”, fico descansado. Ou melhor, escuso de ficar descansado. Será que não temem pela saúde de dezenas de crianças e jovens que todos os dias frequentam as instalações do Estádio Municipal?

Mas para não dizerem que apenas aponto problemas e não arrisco soluções, cá vai uma sugestão. Já que uma das formas de combater a praga é o recurso à falcoaria, o conspícuo deputado Feteira Pedrosa que traga a águia do glorioso, e a ponha a dar caça às indesejadas pássaras. Sempre era uma forma de fazer qualquer coisa útil pelos eleitores do seu circulo. Mais não fosse, porque enquanto estava entretido no Casal do Malta a atiçar a Vitória às gaivotas, não estava no facebook a rembibar o malho contra o Syriza. Já começo a desconfiar que aquilo é mais do que amor platónico. Ou será uma chinesice?


19/02/15

OLX




Vendo barato ou troco por outro mais afinado.
Motivo: falta de interesse pelo "instrumento".

(refiro-me, obviamente, ao "aco", não ao "inho")


12/02/15

[Sr. Ministro] "Eu não quero morrer!"


No califado do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, no próximo oriente, a barbárie continua em nome de um deus que, pelos vistos, se mostra incompetente para castigar impiedosamente os infiéis, “recorrendo” a facínoras sem pingo de dignidade ou de humanidade.
O sacrifício de reféns é o prato dia que se serve on-line às nações que os combatem, e os pedidos de resgate para libertar esses reféns são meros artifícios para exponenciar o sacrifício e a mediatização do terror, prolongando no tempo o sofrimento e a pressão sobre as autoridades dos países de origem das vítimas.
Invariavelmente, os Estados a quem são pedidos os resgates em troca de vidas humanas, não aceitam a chantagem, assumindo que uma posição de fraqueza se traduziria na abertura duma caixa de Pandora, num precedente com consequências difíceis de imaginar. Compensar o crime não está no campo das hipóteses, mesmo quando do outro lado se sabe que alguém vai perder a vida. Para os Estados são os chamados danos colaterais, inevitáveis, preferíveis a uma subjugação, num algoritmo que pondera o interesse e a segurança colectivos e individuais.
Uns milhares de quilómetros mais a ocidente, um laboratório farmacêutico, cujo nome não refiro por nojo, em nome de outro deus, que chafurda no lucro à custa da miséria e do sofrimento humanos, exige aos Estados quantias obscenas para salvar vítimas da hepatite. O meio é o mesmo, o resgaste pedido tem como contrapartida vidas humanas, tem na base o terror e o sofrimento.
E como se comportam neste caso os Estados? O nosso Estado? “Elementar meu caro Watson”! O Estado reage com a mesma firmeza e a mesma determinação com que se combatem os jihadistas do Estado Islâmico do Iraque e do Levante, não cedendo a chantagens, assumindo a perda de vidas humanas como danos colaterais. Detenhamo-nos pois no paradoxo: "Os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para salvar vidas humanas, os Estados devem fazer tudo o que está ao seu alcance para garantir os melhores cuidados de saúde mas é mentira que custe o que custar, no sentido em que tenhamos os recursos ilimitados para suportar qualquer preço de mercado, isso não existe nem em Portugal nem em lado nenhum do mundo" (Pedro Manuel Mamede Passos Coelho - dixit)
Devo esclarecer que para mim, são tão terroristas os hirsutos de barba e turbante, como os de focinho escanhoado e gravata de seda! Ambos representam o que de pior a natureza humana pode suportar. Ponto!!!
Porém, entre o modo de enfrentar esta duas formas de terrorismo, parecendo haver semelhanças, que as há, há também uma diferença fundamental. É que em relação ao resgate das vítimas sequestradas pelo laboratório, com a sua postura de merceeiro imperturbável, o Estado apenas condena à morte os que não têm meios próprios para adquirir o medicamento que garante a cura numa elevadíssima percentagem de casos. Ou seja, neste caso o papel do Estado resume-se ao do avarento zarolho que não suporta pagar medicamentos para resgatar vidas, porque os recursos são limitados, mas que não ousa entraves ao salvamento da corja de banqueiros e quejandos que durante décadas assaltou o país, ou ao pagamento de rendas garantidas nas PPP’s, esquecendo por completo o seu elementar papel de cuidar e zelar pelo acesso de todos, sem excepção, à saúde.
Mas mesmo que possamos dar de barato que a postura do laboratório é inaceitável e o Estado não a deve tolerar, é bom não esquecer que neste caso salvar vidas não é incompatível com o combate a este tipo de terrorismo. Porque este tipo de terrorismo é resultado das consequências óbvias da liberalização de sectores fundamentais, nomeadamente o da saúde. Este terrorismo é alimentado pela privatização desenfreada do sistema de saúde e da investigação e produção científicas, os quais deveriam estar ao serviço de todos. Este é o resultado de tratar a saúde não como um direito, mas como uma mercadoria. Mesmo que agora o ministro nos venha dizer que o governo português conseguiu o melhor acordo que na Europa algum Estado fez com o repugnante laboratório. Porque entre o pedido de resgate e o acordo final, que continua a ser lesivo e obsceno, houve danos colaterais irreparáveis. E isso por si só é uma tragédia. Da responsabilidade do Estado, obviamente.