30/01/15

Amanhãs que Cantam - O Putativo


A figura é forte! É! É!...
É viçoso, tem carisma e é escorreito. Tem carisma! Tem, tem!...
É um líder, um mentor, um visionário. É, é...
O discurso é fluente, claro e incisivo. Há uma ideia definida para antecipar o futuro e um caminho traçado para percorrer. Que chega ao coração mais empedernido. Que penetra mesmo na mente dos que teimam em... procrastinar*. Enconar!
É um filho da terra...
Por mim está escolhido e sugiro-vos que me acompanhem numa vaga de fundo. Está escolhido o futuro alcaide do burgo! E ainda por cima está cheio de guito - upa, upa!
Tendo em conta o panorama, conseguem arriscar melhor sugestão? Duvido.



(Aviso: desaconselhável a pessoas facielmente impressionáveis e a fiscais da AT)



* esta é dedicada ao Ricardo Graça da Perguiça

26/01/15

Micro-deuses






Manifestando evidentes sinais de adiantado estado de elefantíase, o alcaide entrou na reunião semanal do executivo com a delicadeza dum paquiderme no atelier do Poeiras. Cumprimentou os presentes com um espécie de urro, para marcar território, e passou ao ataque, conforme lhe tinham indicado. A ideia do urro fora sua, inspirado na performance de Cristianinho, aquando da sua recente consagração como melhor do mundo. Inicialmente a DDT não tinha achado grande piada, mas acabou por anuir, autorizando o alcaide a fazer a gracinha do bramido.
Já com todos sentados à mesa, o alcaide retirou de forma delicada e provocadora as luvas de pelica e guardou as pinças, que mantinha em cima da mesa de reuniões desde o início do mandato, num estojo de veludo vermelho escarlate. Colocou o seu ar mais grave, sacou do bolso do casaco de tweed um pedaço de papel cuidadosamente guardado das vistas dos mais afoitos e leu o manuscrito ditado pela equipa de produção. Curto e grosso! Informou do secreto arquivamento do “Processo da Resinagem” e exigiu um “pedido de desculpas”. Formal!... Coisa e tal…
Enquanto isso, numa sala contígua, a DDT e o seu novo acólito, o beato Salu, riam a bandeiras despregadas com a encenação preparada. Estava dada a resposta aos que nas vésperas tinham colocado pequenas sementes de ódio-de-estimação nos pasquins periféricos, para gaudio do director encartado, dos detractores do acordo pós-eleitoral e de um ou dois símios omniscientes, omnipresentes e omnimpotentes.
Os presentes, eleitos - uns mais presentes que outros, diga-se - reagiram entre a indiferença e o incómodo – a indiferença ao mensageiro, que articula mal e vocaliza pior, e o incómodo da mensagem, soprada do sótão bafiento da casa assombrada da 25 de Abril.
Confesso que já nada me causa espanto, pelo que a pseudo farsa vicentina é mais um dos muitos episódios com fracos actores e frouxos de argumentos. Ao menos que tivessem tido o cuidado, para a coisa parecer um pouco mais autêntica, de dirimir o desaguisado antes de firmarem o acordo inócuo que lhes permite brincarem aos executivos de maioria vacinada.
Vão mas é gozar com a prima! Do outro.