Com o ar fresco e jovial duma
manhã sombria de fim de verão, o pivot mal-dormido anunciou a menina da Reuters, que iria trazer as mais serenas e apaziguadoras notícias dos mercados - hoje, dezanove de Setembro do ano da desdita de dois mil e catorze, os mercados “abriram
em alta”.
Cunha Lima, a menina da Reuters,
confirmando a deixa do mal-dormido, reiterou a abertura dos mercados em alta,
justificando o facto com a vitória do “não” no referendo na Escócia. Mais,
disse a menina Cunha Lima da Reuters, que os mercados reagem positivamente à
estabilidade política, penalizando as situações de incerteza, como supostamente
seria o caso da vitória do “sim”.
É sempre bom acordar a uma
sexta-feira dezanove de Setembro do ano da desdita de dois mil e catorze, e
saber, através da menina da Reuters, que os mercados gostam de “estabilidade” e
que têm “reacções”. Tanto mais tranquilizante, para um país com uma dívida
pública à volta dos 134% do PIB…
Por uma questão de preguiça
intelectual, poderia até ficar sossegado a ruminar as "boas novas" da menina da
Reuters numa manhã de sexta-feira, em vésperas de fim-de-semana chuvoso, ou até,
e porque não, ter uma qualquer reacção vagal como aquelas que o Sr. Silva experimenta
quando o assunto não lhe convém.
Contudo, a bem da minha higiene
mental, prefiro a inquietude estimulante que me provoca o exercício físico dos
dois neurónios e meio com que o criador me equipou o córtex frontal, e ler as
entrelinhas. De facto, o que a menina da Reuters disse foi aquilo que todos
sabemos e que é em grande medida uma das principais razões da nossa desgraça
colectiva, é que os mercados, tal como os fungos, necessitam de um ambiente propício
para se desenvolverem, reagindo mal a um fenómeno físico-químico cada vez mais
posto em causa que dá pelo nome de “democracia”. O problema dos mercados não é
a instabilidade, porque é nessa instabilidade, sobretudo social, que encontram
a matéria orgânica essencial ao seu obsceno crescimento, através de processos de decomposição. Tal como o fungos.
O problema dos mercados é que convivem
muito mal com o facto de cada um de nós ter um pequeno quinhão de
responsabilidade, e de possibilidade, de mudar o rumo da história. E isso é uma
coisa que os irrita profundamente, pois a “racionalidade” (dos mercados) não se
mede em sabedoria nem em conhecimento, mede-se em lucro. Para quê a democracia
política, se a “democracia económica” lhes basta?
Bom fim de semana e não fiquem
muito a pensar nisso.
Olha, bem jeitosa, a menina Cunha
Lima. Da Reuters.
Mais um excelente texto.
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