23/05/14

Voto útil



- Lurdes!?
- Humm…
- Não te esqueças que domingo há eleições.
- E o qu’é qu’eu tenho a ver com isso?
- Tens de ir votar.
- Eu? Votar? P’ra quê? Esses camelos são todos iguais, só querem é tacho.
- Não consegues entender a importância do teu voto?
- É p’rá cambra?
- Não, é para o Parlamento Europeu.
- Isso é lá da Lombarda ou o carago? Que se quilhe…
- Não é Lombarda é Bruxelas.
- Ou isso, eu sei qu’é nome de couve. Que se quilhe…
- Caso ainda não tenhas percebido, estas eleições são talvez as mais importante. Porque hoje em dia tudo o que se passa cá tem a ver com o modelo de União Europeia que temos e que desejamos para o futuro. Tem a ver com a moeda única, com os tratados, com as directivas, com as políticas comuns, com as…
Lurdes Rata, que estava sentada no sofá da sala a passajar meias, levantou a cabeça e fuzilou-me com o olhar míope dum microtus lusitanicus, interrompendo o meu discurso apologético da democracia participativa e da cidadania responsável.
- Oiça cá, já reparou que tem os peúgos todos rotos e coçados? Esta porra dá uma trabalheira a passajar que já me doem os olhos e as cruzes.
- Pois é Lurdes, nunca irás perceber o que realmente está em causa.
- E você percebe? Vá-se quilhar.
Irritado, virei-lhe costas e saí porta fora para o patim.
Contente por me ver, o canito atirou-se a mim à procura duma festa, enchendo-me  as calças, lavadas e impecavelmente vincadas pelas Lurdes Rata, de lama, de odor e de pelo de cão. “Não vale a pena dar água a quem não tem sede” – pensei para comigo. Afinal de contas no próximo domingo o Marquês de Pombal estará vazio e não haverá directos com militantes eufóricos a exultarem de alegria por mais uma vitória. Ainda bem que Soares, a quem o umbigo não pára de crescer, leu o meu último post e logo à tarde fará jejum. Melhor seria que no domingo também fizesse abstinência. Talvez assim Seguro tivesse um lampejo de Sentido de Estado e Costa uma epifania. Não me parece. Seguro sonha ser primeiro-ministro e Costa presidente do glorioso e dos pasteis. Basta assim. A ditadura europeia a 28 agradece de forma reconhecida a generosidade dos spreads, o que para a Lurdes Rata é perfeitamente indiferente. O pior é a conta da luz ao fim do mês…



12/05/14

Ensaio Político

  
Entre duas notícias de desgraças humanas, a pivot do jornal das oito lê a nota de rodapé do início da campanha eleitoral para as europeias, seguindo-se as habituais imagens das procissões de arciprestes, acólitos e paisanos, beberricando espumante e mijo de burro em púcaros de alumínio, servidos por diligentes escanções localmente bem aparelhados.
É bem certo. As campanhas eleitorais são cada vez mais como as épocas de saldos, começam muito antes da data marcada e apenas servem para despachar stock. Vai-se falar de tudo menos do tema. Porque a europa é uma miragem, lá longe, e porque a paróquia está à tripa-forra e quer despachar a quadrilha que tem franqueado a porta ao saque. Mas para serem substituídos por quem, senhores? Pelo Tó Seguro, o anémico secretário-geral do maior partido da oposição que se arrisca a ser primeiro-ministro sem saber contar nem soletrar?
É bem certo. Só vejo uma forma do maior partido da oposição, que se arrisca a indicar o próximo primeiro-ministro, perceber as suas mais profundas responsabilidades e a delicadeza do momento – levar uma tareia vexatória no próximo dia 25 de Maio.
É que se assim não for, Dupont vai suceder a Dupont, e uma mão lava a outra e as duas lavam o vesgo. E a malta continuará atolada até ao pescoço. Ou como diria o génio Lopes Graça – ACORDAI! ACORDAI! ACORDAI!...