04/09/13

Diário de Campanha - Números

 
Tal como faço habitualmente, dei uma vista de olhos sobre as notícias do dia, incluindo obviamente as da nossa cidade.
O título chamou-me à atenção: “Câmara da Marinha investe 300 mil euros em refeições escolares”. Li a notícia, procurando perceber do seu alcance e da dimensão do “investimento”.
Acedi ao site da CMMG e confirmei a fonte, na área relativa às “Notícias” lá estava a mesma informação que havia lido no Diário de Leiria.
Insensível a grandes elaborações e conjecturas sobre as motivações humanas e sobre a bondade e o esforço do poder político em prole daqueles a quem deve servir, o meu cérebro estabeleceu de imediato o mais simplista e básico raciocínio, transformar o suculento título em números também básicos. Os números têm a vantagem de revelarem factos e a desvantagem de omitirem contextos. Cabe depois à inteligência e à boa vontade dos homens desvendar os números e revelá-los em conclusões objectivas, ou tortuosas distorções da realidade, que não é fria como os números, mas que é nua e crua para infortúnio de muitos.
Decidi por isso recorrer aos ensinamentos da primária e a uma das mais elementares operações matemáticas e de solidariedade fraterna – a divisão. Dividi o valor “investido” (“mais de 300 mil euros” - escolhi por hipótese, provavelmente próxima da realidade, 340.000€), pelo preciso número de refeições indicado na notícia – 257.020 (nem mais uma, nem menos uma, 257.020 refeições), tendo obtido o valor de 1,32€ por refeição. Não satisfeito voltei a recorrer às artes mágicas da divisão colocando no dividendo os tais 340.000€ e no divisor cerca de 30 milhões de euros, aproximadamente o valor que encontrei num jornal local relativo ao total do orçamento do município aprovado para 2013. O rácio foi de aproximadamente 1,1%.
Os números do investimento (nas nossas crianças) são frios, mas as conclusões da notícia revelam aquilo a que os especialistas da psicologia designam por procristinação, continua-se alegremente a adiar o futuro, suavemente embalados na fé do impacto favorável de títulos gordos de não notícias. Dá que pensar…
 

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