17/07/14

"Ser ou não ser, eis a questão"


Na sua famosa peça ”A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca”, William Shakespeare tratou de colocar a fasquia bem alta. Elevou o patamar da discussão da mera bagatela do “ser” e do “perecer” dispensada a Pompeia Sula, mulher de Júlio César, uma fulana esbelta e arisca que numa famosa orgia báquica por si organizada se pôs a jeito de engalanar o legítimo com armação de cervato, para o nível da afirmação ou da negação da competência e da consequência. A verdade é que se é, ou não se é. Não há volta a dar. Ou se é competente e capaz ou se é incompetente e incapaz, não há meio-termo.
Por isso, hoje não ficaria de bem com a minha consciência se não assumisse absolutamente o repto de Shakespeare e manifestasse de forma peremptória o que penso e sinto, tornando-me cúmplice por omissão. Como não quero ser hipócrita digo-o sem quaisquer pruridos: o actual executivo camarário é talvez o pior executivo que nos governou desde o 25 de Abril. Não pelo voluntarismo nem pela vontade, antes pela falta de visão estratégica, pela falta de capacidade de liderança, pela falta de atitude auto-crítica e pela inércia. Uma desgraça…
Não. Não me refiro a questões de lana-caprina que atafulham pasquins e redes sociais. Refiro-me antes a um rumo com sentido e a uma atitude que antecipe cenários e ponha no centro da agenda as questões que efectivamente são fulcrais e estruturantes para o concelho. E são muitas. Quais as reais preocupações deste executivo relativamente às condições de desenvolvimento da actividade económica do concelho? Quais as reais preocupações deste executivo relativamente à qualidade de vida proporcionada à sua população? Quais as reais preocupações deste executivo relativamente à projecção do concelho no panorama nacional e no contexto europeu? Quais as reais preocupações deste executivo relativamente à gestão da água? À gestão da malha urbana?...
Infelizmente não encontro respostas pelas simples razão de que para este executivo tudo é muito complicado e qualquer opinião diversa resulta numa perigosa deriva insurgente. Infelizmente este executivo não dá mostras de que é [capaz] - não percebe que a política e o serviço público devem ser servidos com grande competência, rigor e humildade, não compreende que gerir é pensar, decidir, planear, executar e controlar, não entende que um executivo municipal não se pode esgotar num qualquer comité de organização de eventos pontuais e desgarrados (já para não dizer que muitas das vezes, desfasados, da realidade).
Erro de casting? Falta de qualidade da classe dirigente e política? Falta de exigência dos munícipes? Interesses? Mesquinhez? Sede de poder? Talvez tudo isso ou o seu contrário.A verdade é que Shakespeare tinha razão: “ser ou não ser, eis a questão”. E neste caso, para mal de todos nós, é “não ser” [competente].